Dificuldades
Foi neste momento que a vida de Marcelo se transformou completamente. “O fornecedor sempre recebia o pagamento adiantado e, num belo dia, desapareceu com nosso dinheiro”, conta. Ele deixou a família e a namorada para trás e seguiu com um amigo para São Paulo, na tentativa de encontrar o fornecedor.
A dupla chegou na capital com apenas R$ 50 no bolso. O homem que lhe aplicou o golpe nunca foi encontrado, porém, Marcelo conheceu um empresário do ramo de camisetas, que estava buscando alguém para personalizar as peças. “Aproveitei a oportunidade, mas só tinha aquele dinheiro para sobreviver e para comprar as tintas”, conta. Naquela noite, em 2004, ele foi num hotel barato para tomar banho e comer alguma coisa. Sobraram apenas R$ 18. “Eu sabia que em 30 dias teria um pagamento, mas não imaginava como sobreviveria até lá”, recorda. Marcelo alugou uma garagem num estacionamento a céu aberto para fugir da violência das ruas. “Eles aceitaram receber depois, então ali eu dormia e deixava minhas coisas”, diz. Durante quase quatro meses ele sobreviveu tomando banho na rua, usando roupas velhas e rasgadas, comendo o encontrasse.
Perseverança
E a vida do empresário mudou mais uma vez. Enquanto caminhava por São Paulo, um caminhão com um grupo de voluntários distribuía roupas e alimentos aos moradores de rua. “O rapaz do caminhão me chamou, entregou uma camiseta e eu aceitei. Foi aí que percebi como eu estava sujo e barbudo”, relata.
Nesta época ele conheceu uma família muçulmana que o tirou das ruas. “Fui criado num regime racista e acabei morando com uma muçulmana negra, foi ela que me estendeu a mão quando mais precisei”, diz. Dela, ele se lembra apenas dos olhos, pois a mulher utilizava burca, como a religião dela determinava.
Dias melhores
Marcelo começou a ter condições de visitar a família em Itu e voltar para São Paulo. Foi então que sua namorada ficou grávida e ele resolveu largar tudo e voltar para o interior Paulista. Novamente em Itu, ele passou dificuldades, mas conseguiu utilizar sua experiência para montar um site para vender camisetas. “Foi tudo bem simples e passei o dia 31 de dezembro de 2005 cadastrando todas as peças”, comenta.
De lá para cá, Marcelo casou-se com Andreia de Aquino, 27 anos, e tem duas filhas: Nathaly, de seis anos, e Alana, de três. “Minha mulher nunca deixou de acreditar em mim, jamais pensou em me abandonar. Ela é tudo para mim”, diz o empresário, que hoje possui um site próprio e 350 microfranquias espalhadas - incluindo duas no exterior -, que revendem as Camisetas Da Hora. Em Itu, a sede da empresa gera emprego para 20 pessoas, número que cresce constantemente. “Tudo tem o seu momento, eu cheguei ao fundo do poço para aprender o que é viver, o que é ser humano e, acima de tudo, o que é ser humilde. Nasci novamente e agora dou valor a tudo na vida. Não me arrependo de nada, pois tudo tem o seu momento. É gratificante olhar por tudo o que passei e ver que sou exemplo para outras pessoas e para eu mesmo”, conclui.
By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: Adriane Sousa (G1 Noticias) – Imagem: Adriane de Sousa (G1 Noticias)
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