O programa Conversa Com Bial teve como convidado na última segunda (16) o ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama, por ocasião do lançamento nesta terça (17) do primeiro volume de seu livro de memórias, o esperado Terra Prometida. Um momento polêmico da conversa teve como assunto o ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva.
“Na primeira vez que Obama menciona no livro o ex-presidente Lula,
ele o descreve assim: ‘Ex-líder sindical, grisalho e cativante, com uma
passagem pela prisão por protestar contra o governo militar, eleito em
2002, tinha iniciado uma série de reformas pragmáticas que fizeram as
taxas de crescimento do Brasil dispararem, ampliando sua classe média e
assegurando moradia e educação para milhões de cidadãos mais pobres.
Constava também que tinha os escrúpulos de um chefão do Tammany Hall'”,
disse Bial ao começar a contextualizar a pergunta que viria.
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“Tammany
Hall foi uma organização política da cidade de Nova York, comandada por
políticos democratas, que dominou a região durante oitenta anos, entre a
segunda metade do século 19 e primeira do século 20. Tammany Hall é
sinônimo de corrupção e banditismo político. Portanto, é assim que ele
completa a sua apresentação de Lula”, continua Bial para terminar o
prelúdio voltando ao livro de Obama: “E circulavam boatos de
clientelismo governamental, negócios por baixo do pano e propina na casa
dos bilhões.”
A pergunta que faz logo depois tem um adendo, um encontro famoso
entre Lula e Obama: “Os brasileiros se lembram bem quando na reunião do
G20, em 2009, quando você cumprimentou o ex-presidente Lula da Silva
dizendo: ‘Esse é o cara. Amo esse cara. É o político mais popular da
Terra.’ No livro, você fala de Lula, reconhece as conquistas sociais que
ele teve, mas também diz que supostamente ele era uma espécie de
mafioso político, envolvido em corrupções bilionárias e esquemas de
propina. Então existem duas entidades políticas, o herói dos
trabalhadores e o líder de gangue. E só existe um só homem, o Lula. Hoje
você ainda diria que ele é o cara?”
Obama pondera e diz: “Com os
relatos de corrupção que surgiram e que afetaram o sistema brasileiro…
Na época, eu não sabia de todos eles. Acho que o dom que o Lula tinha ao
se conectar com o povo brasileiro e o progresso econômico que realmente
aconteceu, quando ele tirou as pessoas da pobreza naquela época, são
coisas que não podem ser negadas. Uma das coisas que tento fazer no
livro é descrever as complexidades de todas as figuras. Falo do Putin,
da Merkel, do Singh, da Índia. O que você acaba percebendo quando está
no palco do mundo é que a maioria dos líderes são um reflexo das
contradições e das tensões dos seus países. Existem alguns, como Merkel,
de quem eu era muito próximo e com quem trabalhei durante muito tempo.
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Existem outros, como Putin, com quem tive uma relação de mais
rivalidade. Mas, para poder entender qualquer um desses líderes, é
importante entender a história deles, o contexto no qual operam e as
restrições políticas com as quais precisam lidar”, disse.
“Isso é
parte do motivo para que eu, ao longo do livro, tente oferecer um pouco
mais de contexto histórico dos países que visito e dos líderes com os
quais eu lido. Muitas vezes, não reservamos um tempo para nos entender
além das fronteiras nacionais. Esses desentendimentos podem gerar
conflitos e guerras”, concluiu Obama sobre o assunto.
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