By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: G1 – Imagem: Divulgação
“Eles sofreram preconceito em algumas escolas particulares e quando têm
crises na rua. As pessoas não entendem e nos olham com cara de espanto e
reprovação. Isso acontece porque eles são muito ansiosos. Para eles, é
essencial manter uma rotina e, principalmente, anteciparmos os passeios,
mostrando fotos e vídeo do local onde iremos”.
O Dia Mundial de Conscientização do Autismo ocorre nesta segunda-feira (2). O relato acima, feito ao G1
pela fisioterapeuta Denise Oliveira dos Santos Melo, de 33 anos,
reflete exatamente o desconhecimento que a maior parcela da população
tem sobre o assunto. Denise sente na pele esse preconceito, já que é mãe
de duas crianças autistas.
Segundo ela, descobrir que um filho é portador do chamado ‘Transtorno
do Espectro Autista’ e se adaptar a essa nova realidade não é nada
fácil.
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Os filhos gêmeos dela, Lucas e Gabriel, de cinco anos, foram
diagnosticados com a mesma condição, mas com intensidades diferentes, o
que de certa forma torna o acompanhamento ainda mais difícil.
Ambos são autistas pré-verbais e têm dificuldades na comunicação e
socialização. Lucas tem autismo severo e Gabriel moderado. Apesar de
saberem pronunciar algumas palavras, eles não sabem se comunicar e, por
isso, recorrem aos gestos. “O que mais os aborrece é quando não
entendemos. Eles ficam frustrados por não conseguirem explicar”,
lamenta.
Além do autismo, Denise e seu marido Alexandre Dias Nunes de Melo, de
32 anos, também tiveram que aprender a lidar com uma má-formação de
Gabriel. Durante a gravidez, ele foi diagnosticado com hemimelia fibular
e nasceu com pernas mais curtas, tortas, e apenas três dedinhos nas
mãos e em um dos pés.
A desconfiança do autismo surgiu durante uma avaliação de Gabriel na
Casa da Esperança, em Santos, quando tinha apenas um ano. Dessa forma, a
chance de Lucas também ter a condição era grande. O diagnóstico fechado
veio aos três anos. “Receber a notícia foi muito ruim. Nós choramos
demais e não queríamos acreditar. Eu não aceitava, não tinha capacidade
de absorver tudo”.
Diagnóstico
De acordo com a Psiquiatra da Infância e Adolescência, especialista em
Transtorno do Espectro Autista e médica dos gêmeos, Rosa Magaly Morais, o
autismo é identificado de forma clínica por um psiquiatra ou
neurologista infantil, a partir da observação de diversos sintomas, como
alteração dos marcos do desenvolvimento e atraso na fala.
“O que chama a atenção dos pais é o atraso na idade em que as crianças
devem atingir cada marco, em especial a fala. Mas o autismo também pode
ser notado pela diminuição do contato visual, ausência de resposta ao
nome, dificuldade em usar os brinquedos de forma lúdica ou até mesmo
movimentos repetitivos, ou inadequados, como chamamos”.
Ela ainda explica que a principal causa do autismo é a genética.
Segundo a psiquiatra, infecções maternas, uso de medicamentos ou drogas
durante a gravidez e até doenças autoimunes podem colaborar na alteração
genética das crianças e de seu ambiente biológico, favorecendo o
aparecimento do transtorno.
“Em relação aos gêmeos bivitelinos, além de compartilharem parte da
carga genética, compartilham o mesmo ambiente biológico, por isso o
risco dos dois serem autistas é muito maior. A probabilidade de irmãos
ou parentes de primeiro grau terem o mesmo diagnóstico é de 35%. Quanto
ao comprometimento, podem ser graus diferentes, pois depende de outros
diagnósticos associados”.
Rotina
O autismo afeta diretamente o dia a dia dos gêmeos e de toda a família.
Segundo Denise, uma das maiores dificuldades é conseguir sair para
passear com os dois, pois nem sempre eles respondem ao seu comando. Além
disso, frequentar a escola regular também tem sido um grande desafio
por conta do preconceito.
Por essa razão, os casal considera tão importante um dia criado para
celebrar a conscientização do autismo. Para eles, muitas pessoas
confundem essa condição com má-criação e birra por parte das crianças.
Assim, tendo mais conhecimento sobre o assunto, as pessoas poderão
aceita-los a aprender a lidar com os autistas.
Quanto ao tratamento, Denise explica que deve ser feito em conjunto na
escola, clínica e em casa. Somente dessa forma eles conseguem melhorar o
desenvolvimento das crianças. Para isso, contam com ajuda de diversos
profissionais como pedagogo, psicólogo, fonoaudiólogo e terapeuta
ocupacional. “Trabalhamos a socialização, autonomia e o desenvolvimento
de uma habilidade por vez”.
Para Denise, superar essa situação teria sido impossível sem o apoio de
Alexandre, que sempre a ajuda e dá um espaço quando ela necessita.
Caminhando juntos, os dois conseguem lidar com as dificuldades e estar
sempre ao lado dos gêmeos, provando que o amor consegue superar qualquer
obstáculo na criança das duas crianças.
“Esperamos que eles sejam independentes e consigam montar uma família.
Desejo o mesmo que toda mãe, que eles sejam felizes, possam conviver
nesse mundo e sejam compreendidos. Espero que um dia eu tenha a paz de
espírito de saber que eu posso ir embora tranquila, porque eles vão
ficar bem”, finaliza.
Conscientização
O Dia Mundial da Conscientização do Autismo tem como objetivo
conscientizar a população sobre o transtorno que afeta cerca de 70
milhões de pessoas em todo o mundo. O dia foi criado pela Organização
das Nações Unidas (ONU) em 18 de dezembro de 2017.
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