By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: G1 – Imagem: Divulgação
O ministro Marco Aurélio Mello
votou nesta terça-feira (28) pela rejeição da denúncia apresentada pela
Procuradoria Geral da República (PGR) contra o deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ) pelo crime de racismo.
Marco Aurélio é o relator da denúncia. Quando placar estava 2 a 2, o ministro Alexandre de Moraes pediu vista (mais tempo para analisar o caso) e, com isso, a decisão do STF foi adiada.
>> Saiba mais abaixo os argumentos do relator, da PGR e da defesa de Bolsonaro
Réu por apologia ao crime de estupro e por injúria, Bolsonaro é
candidato a presidente da República e, embora o STF já tenha decidido
que réus não podem ocupar a linha sucessória da Presidência, atualmente não há impedimento legal para concorrerem nas eleições.
Em abril do ano passado, Bolsonaro proferiu uma palestra no Clube
Hebraica do Rio de janeiro e, na ocasião, disse que se eleito presidente
não destinará recursos para ONGs e que não vai ter "um centímetro demarcado" para reservas indígenas ou quilombolas.
E acrescentou: "Onde tem uma terra indígena, tem uma riqueza embaixo
dela. Temos que mudar isso daí. [...] Eu fui num quilombo, o afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada! Eu
acho que nem para procriador ele serve mais. Mais de R$ 1 bilhão por ano
é gastado com eles".
Bolsonaro também falou sobre mulheres: "Eu tenho cinco filhos. Foram
quatro homens, a quinta eu dei uma fraquejada e veio uma mulher".
Conforme a denúncia do MPF, a expressões têm cunho discriminatório,
incitaram o "ódio" e atingiram "diretamente vários grupos sociais", o
que configuraria conduta "ilícita, inaceitável e severamente
reprovável".
No processo, o parlamentar afirmou que a PGR quer criminalizá-lo por
expressar opiniões, além de ter tirado as declarações de contexto.
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Voto do relator
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Voto do relator
Ao apresentar o voto, Marco Aurélio afirmou não ter sido comprovada discriminação direta aos citados na palestra.
Ainda na avaliação do ministro, Bolsonaro falou como deputado federal
e, mesmo que as falas estejam sujeitas à "censura no plano moral", ele
estava protegido pela imunidade parlamentar.
Argumentos
Durante a análise da denúncia, o vice-procurador-geral eleitoral,
Luciano Mariz Maia, pediu que a Primeira Turma do Supremo torne Jair
Bolsonaro réu por racismo. Para ele, ficou configurado discurso de ódio
racial contra quilombolas.
Maia destacou que o discurso de Bolsonaro é difundido por diversos
meios. Para ele, as falas são antidemocráticas. "O discurso de ódio
racista é desumanizador, intrinsecamente antidemocrático. Nega
reconhecimento do outro como pessoa. O Ministério Público pede que, este
STF, em nome das garantias, respeite as minorias e responsabilize Jair
Bolsonaro."
Em seguida, o advogado de Bolsonaro, Antônio Sérgio Pitombo, afirmou que
a PGR quer criminalizar o cliente por expressar opiniões.
Segundo a defesa, a denúncia foi "açodada" porque o ideal seria apurar a questão em um inquérito.
Votos dos ministros
O ministro Luís Roberto Barroso
considerou que há, sim, elementos de racismo contra quilombolas, além
de incitação ao crime e apologia ao crime em relação à homossexuais.
Para ele, não há elementos para receber a denúncia em relação à fala
sobre mulheres e estrangeiros.
"Embora não haja no direito brasileiro do crime de homofobia, eu
vislumbro, com todas as vênias, em tal conduta plausibilidade na
incitação ao crime e apologia", afirmou o ministro. "Aqui me parece
inequivocamente claro um tipo de discurso de ódio que o direito
constitucional não admite", completou Barroso. Para o ministro,
"homofobia mata".
Barroso também disse que "não receber essa denúncia diante da gravidade
da fala seria passar para sociedade a mensagem errada de que se pode
tratar com menosprezo as pessoas negras e homossexuais, e eu não
gostaria de passar essa mensagem".
A ministra Rosa Weber acompanhou Barroso.
Depois, o ministro Luiz Fux votou e afirmou que censurar as opiniões não é o melhor caminho para o país. Com o voto, o julgamento ficou em dois a dois.
"Analisando o contexto do discurso, o propósito de se apresentar como
um politico com propostas radicais, o que eu verifico é que, na
essência, houve efetivamente uma crítica contundente às políticas
públicas. (...) O melhor remédio para combater uma má ideia é o debate
público e não a censura. Com esse discurso, esse paciente se expõe a
críticas, mas ele não pode se sujeitar a uma censura penal, a uma
criminalização da sua liberdade de expressão", afirmou o ministro.
Alexandre de Moraes disse que tinha um voto longo e interrompeu o
julgamento para continuidade na próxima terça, dia 4 de setembro.
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