By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: R7 – Imagem: Divulgação
Integrante do coletivo negro Raízes da Liberdade, o geógrafo Sergio Henrique de Oliveira Teixeira, pesquisador da Unicamp, afirma que os argumentos usados por Fernando Holiday, 18 anos, em vídeo em que ataca as cotas raciais e compara Zumbi dos Palmares a Adolf Hitler, são uma “reprodução do discurso conservador”.
O vídeo contra as cotas é o mais visto de uma série postada no YouTube por Holiday, que é negro e ficou conhecido após discursar em carro de som do MBL (Movimento Brasil Livre) durante a passeata anti-Dilma de 15 de março.
Composto por jovens liberais, o MBL foi um dos principais articuladores do protesto.
Desde janeiro, o movimento mantém no YouTube o canal "Inimigos Públicos". Os posts de Holiday têm mensagens, no mínimo, polêmicas.
“As universidades públicas brasileiras viraram verdadeiras fábricas de retardados. Tem mais gente preocupada em não raspar o sovaco e fumar maconha do que em estudar”, afirma em vídeo sobre a “doutrinação marxista nas universidades”.
Em outro post, Holiday aparece amarrado e outro jovem, vestido de mulher, afirma ser a “Luciana Sogra, filha do Tarso Sogra”, em referência à Luciana Genro, ex-deputada federal pelo PSOL-RS, e Tarso Genro, ex-governador gaúcho pelo PT.
“Nós lidamos com cotas, estendemos a mão, e me vem um macaquinho desses...”, diz a personagem apontando para Holiday, antes de acrescentar: “Tu cortas essa parte, né? Depois vou ficar parecendo aquela gremista, né? E tu sabes que eu sou colorado, né?”
No vídeo sobre a reserva de vagas, Holiday afirma que o governo se mostra racista ao instituir cotas raciais e diz que, se há cotas para negros, deveria haver cotas para “gostosas” — pois, segundo ele, “tem muito lugar aí que tá faltando, a FFLCH [Faculdade de Letras, Filosofia e Ciências Humanas da USP] que o diga”.
Ele ainda questiona por que negro pobre precisa de mais benefício que branco pobre e afirma que criar o Dia da Consciência Negra para homenagear Zumbi é a mesma coisa que criar Dia da Consciência Branca para homenagear Hitler. O R7 tentou entrar em contato com autor dos vídeos pelo Facebook, mas ele não respondeu.
Confira abaixo a entrevista de Sergio Henrique de Oliveira Teixeira sobre os comentários de Holiday. Ao final, veja um dos vídeos do ativista do MBL.
R7: O governo se mostra preconceituoso ao instituir cotas raciais?
Sergio Henrique de Oliveira Teixeira: Não. É preciso entender que, no Brasil, há um racismo estrutural. Ou seja, a sociedade brasileira está estruturada de uma forma que dificulta o acesso do negro a locais privilegiados da sociedade. A cota é uma forma de furar esse bloqueio, de garantir que negros consigam ter espaço nesses locais.
R7: Cota é roubo de vaga?
Teixeira: Não. Como disse, a cota é uma forma de incluir em determinados espaços uma parcela da população que está excluída desses espaços. Acredito que as cotas, da maneira como estão instituídas, são insuficientes, pois destinam a negros uma parcela de vagas muito inferior à proporção de negros na população.
R7: Se há cota para negros, deveria haver cota para “gostosa”?
Teixeira: É claro que não. O Fernando incorpora no discurso dele uma série de preconceitos, como o machismo e a homofobia. Ele reproduz o que há de pior no discurso conservador. Em determinado momento, por exemplo, coloca a mulher na posição de prostituta. Agora, uma outra questão é a cota para mulheres. Assim como os negros, as mulheres têm dificuldade de inserção em determinados espaços por causa da forma como a sociedade brasileira está estruturada. Então, sou a favor também de cotas para mulheres no serviço público, por exemplo.
R7: Por que negro pobre precisa de mais benefício que branco pobre?
Teixeira: As cotas socioeconômicas também são importantes. Mas temos que notar que, independentemente da posição econômica, os negros têm mais dificuldades de conseguir espaço na sociedade. Vamos imaginar duas jovens de classe média baixa, ambas com a mesma escolaridade, com a mesma capacidade. Uma delas é negra e a outra é branca, loira. Digamos que ambas façam a mesma entrevista de emprego. Elas terão as mesmas chances de conseguirem a vaga?
R7: Brancos têm legitimidade para defender cotas?
Teixeira: Claro. A luta pela inserção do negro é uma luta de toda a sociedade, não apenas dos negros. É interessante: no vídeo, o Fernando usa uma foto da Luciana Genro, do PSOL, falando para uma plateia de jovens brancos para criticar as cotas. Mas por que não há negros na plateia? A própria foto é uma demonstração de que os negros têm maior dificuldade de acesso a determinados espaços. Ou seja, a própria foto mostra a importância das cotas.
R7: Dia da Consciência Negra para homenagear Zumbi é a mesma coisa que Dia da Consciência Branca para homenagear Hitler?
Teixeira: É claro que não. Zumbi é um símbolo da luta dos negros pela liberdade. É um símbolo da luta de todos os quilombolas. E Hitler simboliza o quê? A luta dos brancos pela liberdade? Claro que não!
R7: Zumbi tinha escravos?
Teixeira: Existem estudos que apontam que, nos quilombos, havia uma hierarquia. Os refugiados que chegavam trabalhavam na colheita, enquanto outros, mais antigos, não. Isso é usado por alguns movimentos conservadores para criticar os quilombos. E o Fernando reproduz esse argumento.
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