By: INTERVALO DA NOTICIAS
Quem conhece a filosofia de trabalho e o carisma das Obras Sociais Irmã
Dulce (Osid) sabe que se trata de instituição toda especial, onde os
mais impensáveis gestos e atos de amor se manifestam. Renato Mário dos
Santos, 43 anos, é catador de recicláveis, negro, morador de rua, sujo
pelo tempo, viciado em álcool e homossexual. No Largo de Roma, ele
encontrou dois amores após vir de Guarulhos (SP): o primeiro é seu
companheiro Jorge Luiz dos Santos Soares, 28 anos, também alcoolista. A
segunda "pessoa" é seu maior amor, Nina, uma cadela de quem não se sabe a
idade ou raça, que há dois anos encontrou Renato, fazendo-o "renascer"
como uma espécie de "Lázaro moderno". Renato cuidou de Nina em sua doença (ele buscou todos os meios para
curá-la de um sangramento intermitente e encontrou uma veterinária que
cuidou do animal sem cobrar pelo serviço). Hoje Nina tem cartão de
vacina e dá ao seu dono toda a atenção e proteção. "É ela quem cuida de
mim, me protege, é meu anjo. E ela nunca gostou que eu bebesse. Quando
via uma bombinha vazia (de cachaça), ela me tomava. E rosna para quem
me oferece bebida", contou Renato, que divide com Nina comida e espaço
em calçadas ou no Albergue de Roma. Buscando livrar-se do vício, Renato e Jorge buscaram tratamento no
Centro de Acolhimento e Tratamento de Alcoolistas (Cata) da Osid. Era
primeiro de agosto e a dupla escolheu roupa "de gala": vestiu-se com
paletós e foi ao centro calçada de havaianas. Mas o tratamento pedia uma
indesejada separação: Renato não poderia ter, dentro da unidade de
saúde, contato com o animal amigo. Mas, logo os funcionários começaram a
perguntar de quem ela seria. Dócil com quem passa, a cadela só abandona
a vigília para alimentar-se, "aliviar-se" ou proteger-se da chuva. Logo descobriram que Nina buscava seu dono e viram que se tratava de um
animal especial. Como escreveu o jornalista Ciro Brigham, primeiro a
traduzir em letras este caso de amor, "não duvide, portanto, se, ao
olhar para essa cadelinha, você enxergar, de relance, Irmã Dulce a
cochichar-lhe num ouvido e São Francisco no outro". A coordenadora do
Cata, a médica Maria Del Carmen, ressaltou que Renato e Nina têm
características interessantes. "Ela é uma cadela diferente e Renato é
muito tranquilo". Por isso, uma primeira exceção foi aberta para Renato e
Jorge: eles foram internados no Cata, mesmo não sendo dia para novas
admissões. Outra licença foi concedida a Renato: em vista do amor entre o paciente
e a cadela, foi permitido a ele descer ao menos uma vez no dia para ver
sua grande companheira. Renato e Jorge passarão pelo menos 20 dias em
desintoxicação e depois terão atendimento ambulatorial (Jorge sofreu
três convulsões provocadas pela abstinência do álcool, mas encontra em
Renato apoio para enfrentar esta difícil fase da luta contra o terrível
vício). Para os funcionários e religiosos da Osid, o caso os faz pensar sobre o
amor. "Nina nos mostra como devemos amar, independentemente das
escolhas das pessoas", disse a irmã Helena, religiosa da mesma
congregação que Irmã Dulce. Ela conta que, em anos anteriores, em todas
as semanas de homenagens à beata Dulce, apareceu um cachorro,
frequentemente necessitando de cuidados. "Mas desta vez apareceu uma que
veio cuidar do seu dono", contou a religiosa. Sobre Nina, Renato disse:
"Ela é tudo para mim, meu maior amor".
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