Um dia após o magnata Mark Zuckerberg - dono do grupo Meta, que controla
o WhatsApp, o Instagram e o Facebook - anunciar que vai abolir a checagem de conteúdo
e quer tornar mais permissiva a moderação de postagens dos usuários, o
ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF),
declarou que a corte “não vai permitir que as big techs, as
redes sociais, continuem sendo instrumentalizadas, dolosa ou
culposamente, ou ainda somente visando lucro, instrumentalizadas para
ampliar discursos de ódio, nazismo, fascismo, misoginia, homofobia e
discursos antidemocráticos”.
Segundo o ministro, “a nossa justiça eleitoral e o nosso Supremo
Tribunal Federal já demonstraram que aqui é uma terra que tem lei. As
redes sociais não são terras sem lei.
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No Brasil só continuarão a operar
se respeitarem a legislação brasileira, independentemente de bravatas de
dirigentes irresponsáveis das big techs.”
Em outubro, a rede social X, do bilionário Elon Musk, pagou R$ 28,6
milhões de multa após a sua plataforma ficar fora do ar no Brasil por
dois meses devido ao descumprimento da ordem do próprio Moraes de bloquear algumas contas.
O empresário Elon Musk se aproximou do presidente eleito dos Estados
Unidos Donald Trump durante a campanha eleitoral do ano passado. Ao
anunciar o relaxamento de controle e moderação de suas plataformas, Mark
Zuckerberg também sinalizou para Trump.
Como registrado pela Agência Brasil, Zuckerberg
informou que vai “trabalhar com o presidente Trump para pressionar os
governos ao redor do mundo que estão perseguindo empresas americanas e
pressionando para censurar mais.” O dono da Meta ainda afirmou que
países latino-americanos têm “tribunais secretos que podem ordenar que
empresas retirem coisas discretamente.”
Na avaliação do ministro Moraes, que é relator dos inquéritos sobre
notícias falsas, milícias digitais e golpe de Estado, o país tem como
desafio “não permitir que esses gigantes conglomerados, que são as big techs,
com seus dirigentes irresponsáveis, por achar que por terem dinheiro
podem mandar no mundo, o desafio de regulamentar, responsabilizar.”
8 de janeiro
Para o magistrado a “grande causa” de atos violentos e
antidemocráticos como o 8 de janeiro de 2023 na Praça dos Três Poderes
foi a disseminação de mentiras e a mobilização de massa promovida pelas
redes sociais.
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“Tudo isso surgiu a partir do momento que no mundo, não só no Brasil,
a partir do momento que no mundo extremistas, e principalmente
extremistas de direita, radicais de direita, se apoderaram das redes
sociais para nelas ou com elas instrumentalizarem as pessoas no sentido
de corroer a democracia por dentro. O que esse novo populismo extremista
digital faz é corroer a democracia por dentro.”
As declarações de Alexandre de Moraes foram feitas durante a “roda de
conversa” realizada no STF para tratar da importância da democracia no
início da tarde desta quarta-feira. Também presente no evento, o
ministro Gilmar Mendes afirmou que “naquele 8 de janeiro, o extremismo e
a intolerância atingiram seu ápice, quando uma turba insana invadiu as
sedes dos Três Poderes em Brasília, incitada por ampla mobilização nas
redes sociais.”
Gilmar defendeu o que chama de “constitucionalismo digital”,
princípio legal que “consagra a proteção dos direitos fundamentais na
esfera digital e impõe às redes sociais um dever de cuidado quanto à
disseminação de conteúdos ilícitos.” Para ele, “essa trajetória
normativa jamais poderá ser confundida com censura. Não é censura.”
O ministro acredita que o constitucionalismo digital “representa não
apenas uma evolução jurídica, mas constitui a pedra angular sobre a qual
se erige uma esfera digital democrática e pluralista, capaz de
harmonizar a liberdade de expressão com a responsabilidade social no
ambiente virtual.”
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