By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: G1 – Imagem: Divulgação
A reforma do ensino médio foi aprovada nesta quarta-feira (8) pelo Senado. O texto, que segue para sanção do presidente Michel Temer, foi inicialmente colocado em vigor como Medida Provisória (MP). O texto final manteve todos os eixos do original.
Abaixo, veja os principais pontos:
O que é a reforma?
É um conjunto de novas diretrizes para o ensino médio implementadas via Medida Provisória apresentadas pelo governo federal em 22 de setembro de 2016.
Por se tratar de uma medida provisória, o texto teve força de lei desde
a publicação no "Diário Oficial". Para não perder a validade, precisava
ser aprovado em até 120 dias (4 meses) pelo Congresso Nacional.
Quem elaborou a MP?
A MP foi elaborada pelo Ministério da Educação e defendida pelo
ministro Mendonça Filho, que assumiu a pasta, após a posse de Michel
Temer, em 1º de setembro de 2016.
Antes da MP, estava em tramitação na Câmara o Projeto de Lei nº
6840/2013, do deputado Reginaldo Lopes (PT-MG). Entidades como o
Movimento Nacional pelo Ensino Médio defendiam a continuidade da
tramitação e das discussões sobre o PL. Governo e congressistas dizem
que o conteúdo da MP considera discussões da Comissão Especial que
resultou no PL.
O que ficou definido na reforma?
A reforma flexibiliza o conteúdo que será ensinado aos alunos, muda a
distribuição do conteúdo das 13 disciplinas tradicionais ao longo dos
três anos do ciclo, dá novo peso ao ensino técnico e incentiva a
ampliação de escolas de tempo integral.
- Áreas de concentração
O currículo do ensino médio será definido pela Base Nacional Comum
Curricular (BNCC), atualmente em elaboração. Mas a nova lei já determina
como a carga horária do ensino médio será dividida. Tudo o que será
lecionado vai estar dentro de uma das seguintes áreas, que são chamadas
de "itinerários formativos":
- linguagens e suas tecnologias
- matemática e suas tecnologias
- ciências da natureza e suas tecnologias
- ciências humanas e sociais aplicadas
- formação técnica e profissional
As escolas, pela reforma, não são obrigadas a oferecer aos alunos todas
as cinco áreas, mas deverão oferecer ao menos um dos itinerários
formativos.
- Carga horária
O texto determina que 60% da carga horária seja ocupada
obrigatoriamente por conteúdos comuns da BNCC, enquanto os demais 40%
serão optativos, conforme a oferta da escola e interesse do aluno, mas
também seguindo o que for determinado pela Base Nacional. No conteúdo
optativo, o aluno poderá, caso haja a oferta, se concentrar em uma das
cinco áreas mencionadas acima.
- Inglês
A língua inglesa passará a ser a disciplina obrigatória no ensino de
língua estrangeira, a partir do sexto ano do ensino fundamental. Isso
quer dizer que Congresso manteve a proposta do governo federal. Antes da
reforma, as escolas podiam escolher se a língua estrangeira ensinada
aos alunos seria o inglês ou o espanhol. Agora, se a escola só oferece
uma língua estrangeira, essa língua deve ser obrigatoriamente o inglês.
Se ela oferece mais de uma língua estrangeira, a segunda língua,
preferencialmente, deve ser o espanhol, mas isso não é obrigatório.
- Mais escolas em tempo integral
Outro objetivo da reforma é incentivar o aumento da carga horária para
cumprir a meta 6 do Plano Nacional de Educação (PNE), que prevê que, até
2024, 50% das escolas e 25% das matrículas na educação básica
(incluindo os ensinos infantil, fundamental e médio) estejam no ensino
de tempo integral.
No ensino médio, a carga deve agora ser ampliada progressivamente até
atingir 1,4 mil horas anuais. Atualmente, o total é de 800 horas por
ano, de acordo com o MEC. No texto final, os senadores incluíram uma
meta intermediária: no prazo máximo de 5 anos, todas as escolas de
ensino médio do Brasil devem ter carga horária anual de pelo menos mil
horas. Não há previsão de sanções para gestores que não cumprirem a
meta.
- Tempo integral: programa de fomento
O MEC não apontou como será cumprida a carga horária, mas instituiu o
Programa de Fomento à Implementação de Escolas em Tempo Integral para
apoiar a criação de 257,4 mil novas vagas no ensino médio integral.
Inicialmente previa uma ajuda de 4 anos. No texto final, os senadores
sugerem que ele se estenda para 10 anos. Atualmente, só 5,6% das matrículas do ensino médio são em tempo integral no Brasil. Segundo associações, a adoção do turno integral elevaria mensalidades nas escolas particulares.
Não há estimativa de quanto os estados gastariam com a ampliação dos
turnos para integral, mas o governo federal afirmou que, por meio desse
programa de fomento, apenas cobriria parte dos gastos.
Como ficaram os pontos polêmicos da MP?
Desde que foi apresentada pelo governo, em setembro, a reforma se
tornou alvo de protestos pelo país. Estudantes chegaram a ocupar escolas
para se manifestar contra a MP. O protesto levou ao adiamento do Exame
Nacional do Ensino Médio (Enem) em vários locais do Brasil,
especialmente em Minas Gerais e no Paraná.
- Disciplinas obrigatórias
A principal polêmica diz respeito às disciplinas obrigatórias do ensino
médio. Antes da MP, no Brasil, não existia uma lei que especificava
todas as disciplinas que deveriam obrigatoriamente ser ensinadas na
escola – esse documento será a Base Nacional Curricular Comum (BNCC),
que ainda não saiu do papel. Até então, a Lei de Diretrizes e Bases
(LDB) só citava explicitamente, em trechos diversos, as disciplinas de
português, matemática, artes, educação física, filosofia e sociologia
como obrigatórias nos três anos do ensino médio.
Na versão original enviada pelo governo, a MP mudou isso, e retirou do
texto as disciplinas de artes, educação física, filosofia e sociologia.
Ela determinava que somente matemática e português seriam disciplinas
obrigatórios ao longo dos três anos, e tornava obrigatório o ensino de
inglês como língua estrangeira. Mas, além disso, os demais conteúdos
para a etapa obrigatória seriam definidos pela Base Nacional, ainda em
debate.
Durante a tramitação no Congresso, porém, os parlamentares revisaram
parcialmente a retirada da citação direta à educação física, arte,
sociologia e filosofia como disciplinas obrigatórias. Uma emenda definiu
que as matérias devem ter "estudos e práticas" incluídos como
obrigatórios na BNCC.
- Notório saber
Outro alvo de críticas foi a permissão para que professores sem diploma
específico ministrem aulas. O texto aprovado no Congresso manteve a
autorização para que profissionais com "notório saber", reconhecidos
pelo sistema de ensino, possam dar aulas exclusivamente para cursos de
formação técnica e profissional, desde que os cursos estejam ligados às
áreas de atuação deles.
Também ficou definido pelos deputados e senadores que profissionais
graduados sem licenciatura poderão fazer uma complementação pedagógica
para que estejam qualificados a ministrar aulas.
Tramitação foi questionada
Especialistas dizem que as mudanças deveriam ter sido discutidas
abertamente com a sociedade, e não implementadas via MP. O
Procurador-geral da República, Rodrigo Janot, enviou parecer ao Supremo
Tribunal Federal (STF) no qual afirma que a medida provisória que
estabelece uma reforma no ensino médio é inconstitucional.
Na Câmara, a proposta recebeu 567 emendas
de deputados e senadores com o objetivo de alterar o conteúdo da
proposta. Foram realizadas nove audiências públicas durante a
tramitação.
Outra crítica é que na prática, uma escola da rede pública não terá
como oferecer todos os itinerários formativos, o que pode reduzir o
potencial de escolha do estudante. Consultados pelo G1, ex-ministros da Educação alertaram para o risco de que a reforma amplie as desigualdades de oportunidades educacionais. O ministro Mendonça Filho rebateu a acusação.
Quando a reforma entra em vigor?
Maria Helena Guimarães, secretária executiva do MEC, disse no ano
passado que a primeira turma ingressando no novo modelo poderia ser em
2018. Já Mendonça Filho disse que não há um prazo máximo para que todos
os estados estejam no novo modelo, e diz que espera que haja uma demanda
dos próprios estados para acelerar o processo.
Apesar de depender da aprovação da BNCC, o MEC ainda faz a ressalva de
que a MP já terá valor de lei e que escolas privadas e redes estaduais
já podem fazer adaptações seguindo os seus currículos já em vigor.
Como a Base Nacional é importante neste processo?
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) vai definir o conteúdo mínimo e as disciplinas que estarão obrigatoriamente no ensino médio.
Um dos pontos polêmicos da reforma foi o fato de o texto da MP retirar
da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) a garantia explícita de
que algumas disciplinas já consolidadas (artes, educação física,
filosofia e sociologia) deveriam ser aplicadas no ensino médio. A
medida, porém, foi revertida na tramitação do texto no Congresso.
Quando a BNCC sai do papel?
O Ministério da Educação anunciou que ela será dividida em duas partes:
a do ensino fundamental e a do ensino médio. Havia previsão é de que
base do ensino fundamental fosse entregue entre os meses de outubro de novembro de 2016,
mas o prazo não foi cumprido. No fim de janeiro, Mendonça Filho afirmou
que a BNCC do ensino infantil e fundamental seria encaminhada ao
Conselho Nacional de Educação (CNE) "nas próximas semanas" e deve ser homologada até o fim do primeiro semestre deste ano.
Já o conteúdo do ensino médio deve ser entregue até o mês de março de
2017, segundo o secretário de Educação Básica do MEC, Rossieli Soares da
Silva.
A reforma muda quais leis que regulam a educação?
A medida provisória aprovada na tarde desta quarta-feira no Senado tarde altera artigos da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que é a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e da Lei nº 11.494, de junho de 2007,
que é a Lei do Fundeb. Além disso, institui a Política de Fomento à
Implementação de Escola de Ensino Médio em Tempo Integral.
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