By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: G1 – Imagem: Divulgação
A fosfoetanolamina – composto sem registro na Anvisa que era
distribuído irregularmente pelo químico Gilberto Chierice no Instituto
de Química de São Carlos (IQSC-USP) como tratamento de câncer – será
lançada como suplemento alimentar, segundo pesquisadores. O biólogo
Marcos Vinícius de Almeida e o médico Renato Meneguelo faziam parte do
grupo de Chierice, mas romperam com o químico.
Segundo a dupla, o suplemento será produzido por uma empresa na
Flórida, nos Estados Unidos, em parceria com o laboratório uruguaio
Federico Diaz, dono da Quality Medical Line. Em vídeos e textos
publicados em redes sociais, os pesquisadores afirmam que o suplemento
já foi registrado nos Estados Unidos e estará disponível para venda a
partir do dia 16 de março. Brasileiros interessados, segundo eles, terão
de fazer a compra diretamente nos Estados Unidos ou receber o produto
pelo correio.
Questionado em sua página do Facebook sobre o preço do suplemento,
Almeida afirmou a uma internauta que cada cápsula custaria por volta de
R$ 3,80. A cápsula será sintetizada por um novo método, diferente
daquele desenvolvido por Chierice, mas que resultaria em um produto
igual, segundo o biólogo.
Na página da Quality Medical Line, a fosfoetanolamina é apresentada
como um suplemento que “fortalece seu sistema imunológico e inibe
disfunções celulares e metabólicas”. A suposta propriedade anti-câncer
não é diretamente mencionada, mas a descrição do produto afirma que o
suplemento “ativa a eliminação das células defeituosas de forma
controlada”.
Rompimento do grupo
Em vídeo publicado no Facebook, Meneguelo afirma que ele e Almeida não
fazem parte do grupo de pesquisa inicial sobre fosfoetanolamina desde
dezembro de 2015 por “divergências de opinião”. Ele não concordou que os
testes clínicos para verificar se o composto é eficaz contra o câncer
fossem feitos em um único centro. A fosfoetanolamina está sendo testada em pacientes do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp).
“Enquanto todo mundo espera, eu e o Marcos estávamos andando atrás.
Fomos para Egito, Espanha, Portugal, Uruguai e estados unidos. Os
Estados Unidos estão de parabéns, porque lá conseguimos apoio necessário
para poder fazer não o medicamento, mas o suplemento”, afirma o médico.
“Nunca falei para vocês que estava em busca de remédio que curasse
câncer, mas de um composto que melhorasse pelo menos 20% da qualidade de
vida de quem era terminal. Porque a dor de um canceroso é
insuportável”, completa.
Já Almeida afirma que estava insatisfeito porque “uma série de acordos
não iam para frente pela postura arrogante de alguns do grupo”.
Histórico
O lançamento
da fosfoetanolamina como suplemento já tinha sido sugerido pelo então
ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação Celso Pansera, em março
do ano passado. Em abril, uma lei sancionada pela então presidente Dilma
Rousseff autorizava a produção e venda da pílula, mas foi suspensa por decisão do STF de maio.
O químico Gilberto Orivaldo Chierice, professor aposentado do IQSC,
começou a estudar a substância na década de 1980 e passou a trabalhar
com a hipótese de que ela teria uma ação anticancerígena. Ele
desenvolveu, então, um método próprio para sintetizar a substância em
laboratório.
O processo para se testar a segurança e as possíveis propriedades
terapêuticas de um componente é longo e envolve várias etapas de
pesquisa, que não foram cumpridas no caso da fosfoetanolamina sintética.
4 perguntas e respostas sobre o caso da Fosfoetanolamina
1) O que é? Uma
substância que passou a ser produzida em laboratório por um pesquisador
da USP, hoje aposentado, que acredita que ela seja capaz de tratar
câncer.
2) Qual é a polêmica?
Pessoas com câncer têm entrado na Justiça para obter o produto da USP,
mas ele não passou pelos testes legalmente exigidos. A USP atendia à
demanda somente porque era obrigada judicialmente.
3) Mas ela funciona contra o câncer?
Cientificamente, não há como afirmar, porque os testes necessários não
foram feitos. Ela foi distribuída para diferentes tipos de câncer, mas
sem seguir evidências científicas de que isso seja adequado.
4) Que mal pode fazer usar esse produto? De acordo com os resultados da primeira etapa da pesquisa do Icesp, não há risco de efeitos adversos graves para os pacientes.
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