quarta-feira, 17 de junho de 2020

Policial pagou boleto de R$ 16,5 mil da mulher de Flávio Bolsonaro, diz Coaf

By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: JORNAL EXTRA Imagem: Weslei Marcelino/Reuters

O Ministério Público Federal (MPF) encontrou nas contas correntes do policial militar Diego Sodré de Castro Ambrósio movimentações “de quantias em espécie incompatíveis com o cargo que ocupa”. Ele é suspeito de envolvimento no esquema de rachadinha no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro na Alerj. Os dados constam de uma investigação aberta a partir de um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) sobre transações financeiras do militar.
De acordo com o procurador Sérgio Pinel, que investigou as suspeitas, o Coaf apontou o pagamento de um boleto em nome de Fernanda Bolsonaro, mulher de Flávio, no valor de R$ 16,5 mil feito pelo policial em 2016. Além disso, o Coaf relatou “outras transações suspeitas” do policial militar.
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Ao EXTRA, Ambrósio negou irregularidade e disse que recebeu a devolução dos R$ 16,5 mil de Flávio “em dinheiro”. O policial disse, porém, que não se recorda se tudo foi pago de uma vez ou em parcelas.
— Não vou te precisar se ele me pagou R$ 16 mil no outro dia, se ele me deu R$ 5 mil em um dia, R$ 3 no outro, entendeu? Aí eu não tenho como lembrar. A gente está falando de R$ 16 mil, não de R$ 1,6 milhão. É um dinheiro que você carrega no bolso — afirmou ele, que disse não saber da investigação no MPF:
— Quando eles falam movimentação, fala que o cara é PM, ganhava R$ 4 mil, tinha movimentação na conta diferente... Lógico, mas se você falar que o cara tinha outra fonte de renda legal dá uma desanuviada, não é? — afirmou Ambrósio, que tem uma empresa de vigilância.
O caso foi transferido para o Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) junto com a investigação sobre possível lavagem de dinheiro por parte do senador em negociações imobiliárias, a pedido do MPF.
O jornal O Globo revelou ontem que o procurador Sérgio Pinel entendeu ter encontrado “fortes indícios da prática de crime de lavagem de dinheiro” envolvendo o filho mais velho do presidente. A manifestação do procurador foi feita no pedido do MPF para que os casos de Flávio e de Ambrósio fossem transferidos para MP-RJ. Segundo o procurador, não há, nos dois casos, crimes de evasão de divisas ou envolvimento de pessoas jurídicas com sede no exterior, que seriam de competência federal. A 2ª Câmara de Coordenação e Revisão concordou no início do mês com o pedido e transferiu o caso para a esfera estadual.
Investigação do MP-RJ
No pedido de busca e apreensão autorizado pelo TJ-RJ em endereços ligados ao senador, em dezembro do ano passado, os promotores do MP-RJ afirmaram que Ambrósio era usado no esquema de lavagem de dinheiro de Flávio. Na ocasião, foi mencionado pela primeira vez o pagamento do boleto, referente à parcela da compra de um imóvel. No recibo, foi descrito pelo policial “conta Flávio”.
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Em 2014, o policial abriu a empresa de vigilância Santa Clara Serviços. Nos anos seguintes (2015 a 2018), foram identificadas transferências bancárias e depósitos em cheque do próprio Ambrósio e da Santa Clara para a conta corrente da loja de chocolates de propriedade de Flávio Bolsonaro. Segundo a investigação do MP-RJ, a contabilidade da loja era usada para mascarar dinheiro devolvido por seus assessores na Alerj.
Os promotores também identificaram, em 2016, transferências do policial para dois assessores de Flávio na Alerj. Os promotores também assinalaram que, quando pagou o boleto, o capital social da empresa de Ambrósio era de apenas R$ 20 mil. Além disso, o salário dele na PM do Rio é de R$ 4,7 mil. Na ocasião, ainda era cabo, patente inferior.
Em dezembro de 2019, o senador gravou um vídeo dizendo que não havia cometido irregularidades. O senador disse que o pagamento do boleto de R$ 16,5 mil ocorreu, porque ele esqueceu de efetuar o pagamento durante expediente bancário. Desse modo, Ambrósio o ajudou. Os outros repasses teriam sido relativos a compras de panetones. Em dezembro, Ambrósio disse ao site G1 que fez o pagamento em outubro de 2016 por ser amigo do parlamentar, mas que não se lembrava como foi ressarcido.
A mesma 2ª Câmara do MPF vai decidir, nas próximas semanas, sobre outro caso envolvendo o senador : o pedido de arquivamento do inquérito eleitoral aberto por suspeitas de lavagem de dinheiro e falsidade ideológica nas declarações de bens do senador à Justiça eleitoral.
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