sexta-feira, 17 de julho de 2020

Ronnie Lessa, preso pela morte de Marielle Franco, é indiciado por tráfico internacional de armas

By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: G1 Imagem: Divulgação

A Delegacia Especializada em Armas, Munições e Explosivos (Desarme) indiciou por tráfico internacional de armas o PM reformado Ronnie Lessa -- preso e acusado pelos homicídios de Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes.
Segundo o delegado Marcus Amim, titular da delegacia, Ronnie traficava armas dos Estados Unidos desde 2014 com a ajuda da filha. Mohana Figueiredo morava nos EUA e também foi indiciada. "Até pouco tempo antes de ser preso, ele estava praticando essa atividade", explicou Amim.
Com a apreensão de telefones celulares no dia da prisão de Lessa, a Delegacia de Homicídios (DH) e Ministério Público começaram a analisar conversas e arquivos. 
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Os relatórios foram enviados para a Desarme, que instaurou um novo inquérito para apurar o tráfico internacional de armas.
De acordo com os investigadores, peças e acessórios eram adquiridos em sites de venda de armas e em países como China, Nova Zelândia e Estados Unidos. De lá, eram mandados para o Rio de Janeiro.
Filho menor de idade investigado
A investigação ainda encontrou indícios de que um dos filhos de Lessa, menor de idade, tirou fotos com armas reais. Por isso, segundo Amim, parte da investigação foi enviada para a Vara de Infância e Juventude.
"Tem algumas fotos que ele ostenta o que a gente crê que sejam armas de fogo de verdade. Por isso, ele já é passível de receber medidas socioeducativas", explicou o delegado.
Diálogos no WhatsApp
Uma conversa de 13 de agosto de 2018, pelo Whastapp, chamou a atenção dos analistas. No trecho, Mohana envia ao pai a foto de uma peça de fuzil.
Na troca de mensagens, a Desarme encontrou ainda uma orientação de Lessa à filha. “Escreve ‘metal parts’ [peças de metal]”. A polícia acredita que essa descrição do que estava sendo mandado para o Brasil era uma forma de burlar a fiscalização.
“As compras realizadas por meio eletrônico e as mensagens trocadas demonstram que o material era trazido para montagem de armas de fogo no Brasil. Ronnie Lessa adquiria essas peças de armas fora do país e orientava sua filha para que retirasse embalagens e outras identificações, com o intuito de se esquivar de qualquer órgão fiscalizador brasileiro”, detalhou Amim.
Há outros envios feitos por Mohana, que vivia na Geórgia e trabalhava como treinadora de futebol.
“Vou postar hoje. O que escrevo na descrição e valor?”, pergunta a filha. “Rubber parts [peças de borracha]”, responde, Lessa, uma semana mais tarde.
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Em 23 de outubro de 2018, Lessa dá orientações mais específicas no intuito de burlar qualquer possível fiscalização: “Não coloca o fone, não. Bota tudo sem nota e embalagem escreve plastic block [placas plásticas]”, diz, completando: “Coloca como valor o preço da taxa de correio”.
Os 117 fuzis incompletos
Na casa de Lessa, foram encontrados 117 fuzis incompletos. O arsenal, segundo a delegacia, era todo falsificado e seria vendido a criminosos.
Lessa, de acordo com as investigações, estudava formas de fabricação de carregadores e digramas de cano para fuzil calibre 5,56., justamente as peças que faltavam nesses fuzis.
O relatório da Desarme destaca ainda as pesquisas realizadas por Ronnie Lessa na internet com a finalidade de adaptar acessórios para melhorar armas -- entre elas, a metralhadora MP5.
O policial militar havia pesquisado um filtro de combustível da marca Napa para ser adaptado ao armamento. De acordo com a DH, uma MP5 foi usada para matar Marielle.
Sigilo quebrado
Em março de 2020, a Justiça quebrou o sigilo bancário de Lessa e de Élcio de Queiroz, acusado juntamente com Lessa de participar do homicídio de Marielle e do motorista Anderson Gomes. Somente Lessa, ex-policial reformado, teve bens no valor de R$ 2,6 milhões sequestrados.
Procurada, a defesa de Ronnie Lessa não respondeu até a publicação desta reportagem. 
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