segunda-feira, 30 de junho de 2014

Por que União da Vitória não esvazia?



By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: Rádio Najuá Imagem: Marcelo Andrade (Gazeta do Povo)


Uma barragem feita pela natureza é a responsável por estreitar o Rio Iguaçu e impedir o escoamento da água que se acumula em União da Vitória. A “culpada” surgiu há 200 milhões de anos, na época da separação dos continentes: são as corredeiras de Porto Vitória. É uma formação de pedra (lajeado), que afunila e também deixa mais raso o rio. Ao chegar a esse ponto, a água do Iguaçu não consegue manter o mesmo volume de vazão e começa a se acumular. Não haveria grandes problemas se União da Vitória fosse um local bem mais alto, mas como é uma planície, a água não vence o estreitamento e se espraia para vários quilômetros longe das margens do Iguaçu.
A cidade, no extremo Sul do estado, está exatamente no limite entre o segundo e o terceiro planaltos do Paraná – ou seja, há uma mudança brusca na formação do solo e no tipo de relevo. A terra arenosa dá lugar ao impermeável basalto. Para o Rio Iguaçu, significa mudar de perfil. Ele segue tortuoso e lento, sem força ou velocidade até União da Vitória e depois precisa enfrentar o solo rochoso. Não sem consequências para quem vive nas redondezas.
Como sempre aconteceu na história da humanidade, as pessoas buscavam locais próximos de fontes de água para estabelecer vilarejos. Foi assim, por exemplo, com Curitiba, que cresceu às margens do Rio Belém. Igualmente, para os primeiros moradores de União da Vitória, se instalar à beira do Iguaçu parecia um bom negócio.
O tipo de inundação que ocorre em União da Vitória não é muito comum. De acordo com o Código Brasileiro de Desastres (Cobrade), é uma inundação gradual. É diferente do que ocorre em grandes centros, como Curitiba e São Paulo, que sofrem com alagamentos (quando a drenagem falha, e a impermeabilização do solo leva ao acúmulo repentino da água da chuva). Também não é parecido com o que aconteceu no início do mês em outras cidades do Paraná. Em Guarapuava, por exemplo, choveu muito mais do que em União da Vitória. A força da chuva arrastou o que encontrou pela frente. Contudo, como Guarapuava conta com a declividade a seu favor, a água escoou rapidamente.
Já em União da Vitória, o nível do rio vai subindo devagar, alguns centímetros por hora, mas o aumento é constante e duradouro – já que a água não consegue encontrar caminhos para escoar. “Não há outra cidade no estado que sofra com o mesmo tipo de inundação”, comenta Edson José Manassés, do Departamento de Hidrologia no Instituto das Águas do Paraná. Mesmo outras localidades que costumam registrar cheias duradouras, como Rio Negro, não são afetadas por uma barragem natural, como as corredeiras de Porto Vitória.
A possibilidade de retirar a barreira foi estudada pela Japan International Cooperation Agency (JICA), em 1995. Em valores da época, custaria US$ 430 milhões. São vários quilômetros de rochas duríssimas que precisariam ser escavadas. A conclusão, há quase duas décadas, era de que se gastaria menos para tirar os moradores dos locais mais perigosos e para adaptar a cidade para as constantes inundações. Contudo, nem tudo o que era possível foi feito.
 
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