quinta-feira, 25 de julho de 2024

Moradora de Irati percorre Caminho de Santiago de Compostela em 36 dias

By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: RADIO NAJUA Imagem: Divulgação
A engenheira civil Rozenilda Romaniw Bárbara, que mora em Irati percorreu, em 36 dias, cerca de 900km do trajeto norte do Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha
, que faz parte de uma rede de percursos que levam peregrinos até onde se acredita estarem depositadas as relíquias do apóstolo São Tiago Maior. Desde o século IX, peregrinos de toda a Europa iam até o local de veneração religiosa, também em busca de indulgência – o perdão dos pecados.
Muito famosa durante toda a Idade Média, a peregrinação ao local ficou relativamente esquecida por séculos, até ser reavivada na década de 1980, já não mais restrita a motivos religiosos. O Caminho de Santiago de Compostela tornou-se itinerário espiritual e cultural de primeira ordem e foi declarado Primeiro Itinerário Cultural Europeu em 1987, mesmo ano em que o escritor brasileiro Paulo Coelho lançava “O Diário de um Mago”. O livro, uma das mais importantes obras do autor, foi escrito depois de três meses de peregrinação em Santiago de Compostela e contribuiu, de certa forma, para popularizar o percurso místico e foi ele que inspirou Rozenilda a desejar fazer o percurso.
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“Mais ou menos na década de 1990, li o livro do Paulo Coelho e aí disse ‘Um dia, farei o Caminho!’. Isso ficou totalmente esquecido na minha memória até uns oito anos atrás, quando o Davi Tavares, um guarapuavano que mora na Espanha, estava fazendo um show aqui. Quando conversei com ele, lembrei do Caminho. Fiz toda a programação para fazer em 2020, mas veio a pandemia, que abortou [a ideia], pois ninguém podia sair do País. Em 2022, consegui fazer. Em 2023, repeti e, agora, em 2024, novamente”, explica.
Natural de Mallet, a engenheira conta que desde criança já gostava de caminhar longas distâncias – sete quilômetros de ida e volta até a escola no primário e 12, no Ensino Fundamental. “Lembrei disso, mas duvidava da minha capacidade, se conseguiria fazer. O primeiro caminho que eu fiz, de 830km, eu tinha dúvida se tinha condições de fazer. É uma coisa [que vinha] já da juventude essa possibilidade de caminhar, que agora eu me permiti”, revela Rozenilda.
Anualmente, milhares de peregrinos percorrem o trajeto a pé, de bicicleta ou a cavalo, em busca de contato com a espiritualidade, a aventura e o autoconhecimento. O trajeto mais famoso é o “Caminho Francês”, a partir de Saint-Jean-Pied-de-Port, na França, a cerca de 60km de Bayonne. O Caminho de Santiago de Compostela é considerado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO (na Espanha, em 1993, e na França, em 1998).
Rozenilda explicou que o Caminho Francês tem início em Saint-Jean-Pied-de-Port, a 30km da fronteira da França com a Espanha. De lá, os peregrinos descem até a cidade espanhola de Roncesvalles, na região de Pamplona e, a partir dali, atravessa a porção norte da Península Ibérica, passando por cidades importantes da Espanha. A engenheira fez esse trajeto em 2022, na sua primeira experiência.
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O Caminho Norte, que Rozenilda percorreu agora em 2024, é o mais desafiador da rede de caminhos que levam até Santiago de Compostela
. Com início em Bayonne, na França, ele atravessa regiões do País Basco, Cantábria, Astúrias e Galícia. “É um caminho que percorre o litoral, ele está sempre margeando o litoral. É bastante montanhoso em alguns pontos. Difícil, desafiador, mas não impossível de fazer desde que você esteja preparado mental, psicológica e fisicamente”, avalia.
Mesmo assim, Rozenilda garante que o Caminho de Santiago de Compostela tem estrutura para que o peregrino cumpra o trajeto de acordo com as próprias capacidades, sem precisar se sobrecarregar, e adequados para pessoa com idades mais avançadas, ainda que completem o trajeto no dobro ou triplo do tempo.
A engenheira explica que o Caminho Norte foi percorrido em 36 dias de caminhada, mas que houve um breve intervalo. O trajeto teve início em 3 de maio e ela caminhou com um português que vive na Alemanha. “Ele tinha um compromisso em Portugal, então, nós caminhamos dias 3, 4 e 5. Nos dias 6, 7, 8 e 9, fomos a Portugal e retomamos o Caminho dia 10 [de maio] e terminamos no dia 11 de junho”, conta.
No percurso, os peregrinos fazem paradas estratégicas em albergues, em que os quartos são coletivos e podem abrigar grupos de até 30 pessoas, a depender do tamanho. “Os dormitórios, normalmente, são em forma comum; alguns deles, separados homens e mulheres; outros, não. Alguns albergues oferecem cozinha, utensílios para você cozinhar ou até oferecem uma ceia, um café. Outras vezes, não, mas aí vai ter um bar do lado, um mercado”, detalha. Também é possível encontrar vários locais com disponibilidade de água para reposição. Se o peregrino for passar por um trecho que não vai ter onde encontrar comida e água, ele é avisado para providenciar para levar quanto for necessário até chegar ao próximo local onde haverá disponibilidade.
“Teve dias que andamos por 25km que não tinha nada de água, nem de comida, e aí tem que fazer um reforço maior, porque come-se muito. Não parece, mas você carregar uma mochila de oito a dez kg nas costas o dia todo dá fome, dá sede e dá cansaço e você precisa ter essa preocupação de repor a tua energia”, relembra. A distância percorrida a cada dia era planejada levando em consideração a capacidade física individual e a disponibilidade de alojamentos. Rozenilda caminhou, em média, de 20 a 30 quilômetros por dia.
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Oficialmente, Rozenilda percorreu 873 quilômetros no Caminho do Norte
. Entretanto, como houve pontos do trajeto em que ela se perdeu e precisou voltar atrás até encontrar o caminho certo, estima que tenha andado bem mais do que 900 quilômetros. “O Caminho do Norte, diferente do Caminho Francês, tem muitas variantes. Tem lugar que você chega e pode ir para cá ou para lá, você escolhe para que lado vai. Vai da sua vontade de caminhar, se você quer andar mais pelo lado da floresta, que às vezes é mais distante, mas é mais bonito, ou se você quer andar pelo mar [pela beira-mar]. Você vai andar por trilhas pesadíssimas, é pela areia, mas é mais pesado. As pessoas têm possibilidades de fazer as variantes e isso muda um pouquinho o trajeto”, compara.
Os peregrinos que completam o trajeto são recompensados com a “Compostela”, um certificado de conclusão da jornada de peregrinação. No início, quem percorre o Caminho de Santiago de Compostela precisa obter, junto ao Escritório do Peregrino, a credencial de peregrino, que é uma espécie de passaporte que vai ser carimbado em cada etapa do itinerário. O documento é baseado no que era entregue aos peregrinos na Idade Média, como salvo-conduto. A credencial do peregrino permite o acesso aos albergues e, quando devidamente carimbada em cada etapa do itinerário, dá direito a receber a “Compostela”, desde que o peregrino tenha percorrido pelo menos 100km a pé ou a cavalo, ou 200km de bicicleta.

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