sexta-feira, 25 de março de 2022

Esquema de propina no MEC envolvia até compra de Bíblias, dizem prefeitos

By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: CORREIO BRAZILIENSE Imagem: Divulgação
Novos relatos de prefeitos que estiveram em reuniões do Ministério da Educação (MEC) confirmam a negociação paralela feita pelos pastores Arilton Moura e Gilmar Santos para que os líderes municipais consigam preferência na liberação de recursos da pasta. Os políticos afirmam que os religiosos cobravam valores em dinheiro, entre R$ 15 a 40 mil, e até mesmo compra de Bíblias para garantir que as demandas fossem atendidas.
Os relatos foram feitos pelos prefeitos de Bonfinópolis (GO), Kelton Pinheiro, e o de Boa Esperança do Sul (SP), José Manoel de Souza, ao jornal O Globo, na quarta-feira (23/3). Kelton se reuniu no MEC com o ministro da Educação, Milton Ribeiro, em 11 de março de 2021, junto a outros 15 líderes municipais.
Ele conta que Ribeiro fez um discurso anticorrupção e depois deixou o local acompanhado pelos pastores Gilmar e Arilton. 
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Depois, os religiosos convidaram o grupo de prefeitos para um almoço, ocasião em que Arilton perguntou as demandas de Kelton. Após contar ao religioso que o município de Bonfinópolis precisava de uma nova escola, o pastor revelou como os recursos poderiam ser garantidos.
“(Arilton) disse que eu teria que dar R$ 15 mil para ele naquele dia, para ele poder fazer a indicação. (Ele disse): ‘transfere para minha conta, é hoje (...) No Brasil as coisas funcionam assim’”, relata.
Logo depois, o pastor acrescentou que o prefeito também deveria dar “uma oferta para a igreja”: a compra de Bíblias. “Seria uma venda casada. Eu teria que comprar essas bíblias, porque ele estava em campanha para arrecadar dinheiro para a construção da igreja”, contou Kelton.
‘R$ 40 mil para ajudar a igreja. Uma mão lava a outra né?’, diz pastor
Em 13 de janeiro do ano passado, o prefeito José Manoel de Souza, de Boa Esperança do Sul (SP), esteve no MEC para protocolar um pedido de recursos para ampliar uma escola e para instaurar um sistema público de ônibus escolar. Junto com 30 gestores municipais, ele foi convidado para almoçar com o pastor Arilton.
No restaurante, ele perguntou qual era o trâmite de avaliação das demandas e a posterior liberação de recursos e foi surpreendido. Além dos recursos solicitados, o religioso ainda ofereceu escolas profissionalizantes para o município liderado por José.
“Ele falou: ‘se você quiser, eu passo um papel agora, ligo para uma pessoa e as escolas profissionalizantes vão chegar ao seu município, mas em contrapartida, você precisa depositar R$ 40 mil para ajudar a igreja. Uma mão lava a outra, né?” conta José. O político afirma que garantiu ter agradecido e negado a proposta.
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Ribeiro diz que sabia das manobras ilícitas de pastores
A existência do gabinete paralelo no MEC foi revelado na semana passada pelo jornal O Estado São Paulo. Na segunda-feira (21/3), um áudio, obtido pelo jornal Folha de S. Paulo, revelou uma fala polêmica do ministro da Educação, Milton Ribeiro.
Ele afirma que prioriza liberação de recursos da pasta para prefeituras que negociaram o repasse com dois pastores, que não possuem cargos no MEC. Ribeiro ainda diz que a prioridade dada por ele atende a um pedido do presidente Jair Bolsonaro (PL).
"Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do [pastor] Gilmar", diz o ministro na conversa em que participaram prefeitos e os dois religiosos.
Em um primeiro pronunciamento, feito na terça (22/3), Ribeiro confirmou que se reuniu com os pastores, mas contrariou a própria fala gravada e disse que atender os pastores não foi um pedido do presidente.
Já na noite de quarta-feira (23/3), o ministro afirmou que sabia das manobras ilícitas dos pastores e que as denunciou ao ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Wagner Rosário.
"Pedi que ele tomasse as providências. Ele me disse que iria instaurar uma investigação sigilosa. Havia uma possível mediação de uma conversa", explicou, sem, porém, mencionar quem são os pastores investigados pela CGU.
"Em agosto de 2020, fui numa determinada cidade e ouvi algum comentário dessa natureza e, depois, recebi denuncia anônima sobre uma possível prática. Não estou falando que houve esse tipo de pedido. 
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Reuni meu gabinete, conversei com meu secretário-executivo (Victor Godoy), e pedi que reduzisse a termo oficial em um documento", disse.
"Em agosto do ano passado, marquei uma reunião com o ministro da CGU. Fui lá, entreguei esse documento e pedi que ele tomasse as providências. Ele me disse que iria instaurar uma investigação sigilosa. O mérito era que havia uma possível mediação de uma conversa, que não era uma conversa que eu achava boa. Diante dessa conversa, não fiquei de braços cruzados", enfatizou, durante entrevistas a emissoras de rádio e de tevê.
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