terça-feira, 1 de outubro de 2019

MEC envia ofício às escolas para 'melhorar ambiente' e combater 'doutrinação' e 'propaganda partidária'


By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: G1 Imagem: Antonio Cruz (Agência Brasil)

O ministro da Educação, Abraham Weintraub, anunciou  o envio de um ofício, a todas as escolas públicas do país, com orientações visando “à melhora do ambiente escolar”. A lista inclui cuidados com o que o governo chama de “doutrinação” e “exposição à propaganda político-partidária”.
O ofício divulgado pelo Ministério da Educação (MEC), ao qual o G1 teve acesso, foi enviado aos secretários estaduais e municipais de educação, além das associações de ambas as categorias – Consed e Undime, respectivamente (Leia na íntegra mais abaixo) .
Os 5 pontos principais do ofício
  1. O aluno tem direito de não sofrer intimidação sistemática (bullying)
  2. O ensino deve ser livre com pluralismo de idéias e a tolerância de opiniões
  3. O aluno não pode ser diferenciado por sua história, identidade, crenças e convicções
  4. É assegurado, em ambiente escolar e de ensino, o respeito à diversidade religiosa
  5. As crenças e convicções, desde que não incitem à violência, devem ser respeitadas pela comunidade escolar, sem constrangimento, ameaça ou violação
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“Estamos pedindo para cada secretaria, para as comunidades buscarem o bom senso. A gente não quer cercear o direito de ninguém. A gente quer reforçar o direito de todos, principalmente das crianças, a terem um ambiente sadio, evitando bullying, um ambiente que gere automutilação e até mesmo suicídio”, declarou Weintraub. 
'Escola de Todos'
O MEC não apresentou dados estatísticos sobre a recorrência desse fenômeno. Segundo o ministério, até o momento, não há previsão de cartilha com o detalhamento do que, no futuro, poderá ser enquadrado como “doutrinação” em sala.
O projeto foi batizado “Escola de Todos”. Questionado por três vezes sobre a relação da iniciativa com o Escola sem Partido, Weintraub negou a associação.
“É uma escola de todos, plural, que visa a trazer o ambiente de paz, e não o ambiente de cerceamento, de vigilância. A gente está tentando buscar o meio termo, o que os americanos chamariam de common ground.”
Apesar de estabelecer as diretrizes para um ensino mais "harmonioso", o MEC não pretende criar nenhum tipo específico de fiscalização ou avaliação das condutas de professores e alunos em sala de aula. A ideia é que os excessos sejam comunicados às redes municipais e estaduais, ou à ouvidoria que o ministério já disponibiliza por telefone e pela internet. O ministro não tratou de eventuais punições.
Segundo ofício
Esse é o segundo ofício do MEC neste ano que dá recomendações à comunidade escolar sobre como atuar. 
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Em fevereiro, durante a gestão de Ricardo Vélez Rodríguez, o ministério enviou um e-mail para as escolas do país pedindo a leitura de uma carta do ministro da Educação, e orientando que, depois de lido o texto, os responsáveis pelas escolas executassem o Hino Nacional e filmassem as crianças durante o ato.
O pedido foi alvo de críticas de educadores e juristas e Vélez chegou a ser investigado por improbidade administrativa pelo Ministério Público Federal (MPF).
Consenso ou pluralidade
Na coletiva, Weintraub foi questionado pela TV Globo se os professores seriam obrigados a apresentar “versões alternativas” de fatos históricos consolidados, para não serem acusados de doutrinação. Por exemplo: equiparar criacionismo e evolucionismo, dizer que o nazismo foi um movimento de esquerda ou lançar dúvidas sobre a existência de uma ditadura militar no Brasil
Ao responder, o ministro citou apenas o primeiro ponto, que para ele é dispensável. “Criacionismo, não precisa. É uma questão de fé. (...) Eu até sou contra falar do design inteligente, acho melhor ficar na teoria original”, disse.
O “design inteligente” citado por Weintraub é uma hipótese minoritária, que refuta a seleção natural de Charles Darwin e sugere a existência de uma inteligência superior que orienta a evolução biológica. O MEC e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) são contrários ao ensino dessa tese e do criacionismo nas aulas de ciências e biologia.
Weintraub não respondeu sobre as “teorias alternativas” a respeito do nazismo e da ditadura militar, que ganharam eco nos últimos anos a partir de iniciativas como o Escola sem Partido. Em vez disso, o ministro citou a necessidade de falar sobre economistas de diferentes escolas.
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“Eu sou professor. E já tive professores de todos os matizes que você pode imaginar. Vamos pegar só uma questão teórica. Você tem Hayek [economista austríaco, defensor do Estado mínimo] e Keynes [economista britânico, defensor do amplo investimento público]. A postura honesta é, antes de ensinar os dois, dizer: ‘olha, eu me identificou mais com esse aqui. O outro tem vários seguidos, mas vocês têm que se lembrar que eu tenho um viés’.”
Ainda de acordo com Weintraub, o ofício enviado às redes públicas servirá para “lembrar aos pais e às associações de pais que eles é que têm que lutar e prezar por um ambiente salutar para os filhos”.
“A lei já determina que o ambiente seja sadio, amistoso, de não doutrinação, plural. E acompanhar, dia a dia, o que o professor vai ensinando. Se o professor fala só uma ponta, só uma ponta, só uma ponta, de repente uma conversa [...] resolve.”
Veja aqui a reprodução do ofício do MEC.
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