By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: G1 – Imagem: Divulgação
O dono da Construtora Valor, Eduardo Lopes de Souza, afirmou que parte
dos desvios de dinheiro descobertos pela Operação Quadro Negro serviriam
para bancar as campanhas do governador do Paraná, Beto Richa (PSDB).
O G1 e a RPC Curitiba tiveram acesso à delação premiada firmada pelo
empresário com o Ministério Público Federal (MPF), que ainda precisa ser
homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Lopes é acusado de ter recebido dinheiro para construir escolas
estaduais, cujas obras mal saíram do papel. As irregularidades são
apuradas pela Operação Quadro Negro – o prejuízo ao cofre público é
estimado em R$ 20 milhões.
O governador nega as acusações. Beto Richa classificou as declarações
como "afirmações mentirosas de um criminoso que busca amenizar a sua
pena".
"O governador lembra ainda que foi a própria Secretaria de Estado da
Educação que, em abril de 2015, detectou disparidades em medições de
algumas obras de escolas e abriu auditoria interna sobre o caso. De
imediato, o governador determinou a demissão de todos os envolvidos",
diz trecho da nota divulgada por Richa.
A fraude
Segundo as investigações, a fraude contou com a ajuda do ex-diretor da
Secretaria da Educação, Maurício Fanini, que se dizia amigo pessoal do
governador. A equipe chefiada por ele era responsável por produzir
relatórios sobre o andamento das obras contratadas junto à Valor.
Os técnicos preparavam documentos fraudados, indicando que as obras
estavam em andamento avançado, quando na verdade seguiam a passos bem
mais lentos.
Em um dos depoimentos da delação, Souza afirmou que Fanini mandava
fazer as medições falsas porque não poderia faltar dinheiro para a
campanha de Richa. Segundo o empresário, os dois esperavam levantar R$
32 milhões para o governador, com os contratos que a Valor fechou com o
poder público.
Para ganhar as licitações, Fanini orientou Souza a elaborar propostas
com descontos agressivos. Depois, os dois acertariam os valores com
aditivos contratuais, subindo o valor total das obras.
Em sete aditivos, a Valor recebeu cerca de R$ 6 milhões da Secretaria
da Educação. Com essa tática, eles contavam que conseguiriam chegar aos
R$ 32 milhões.
Souza contou aos investigadores que, entre abril e setembro de 2014,
ele fazia os repasses diretamente a Fanini, na sala dele, no prédio da
Superintendência de Educação. O empresário contou que entrava por uma
porta lateral e Fanini dizia “banheiro”. Então, o dono da Valor ia até o
vaso sanitário e pegava uma mochila, que enchia de dinheiro.
O empresário afirma que, em dado momento, perguntou a Fanini se o
dinheiro realmente estava indo para a campanha de Richa. O ex-diretor
teria dito que sim.
Dinheiro e vinho
Com a sequência das operações entre os dois, o volume de dinheiro
começou a ficar muito alto. Conforme o relato de Souza, ele e Fanini
começaram a se preocupar e pensaram em uma alternativa que consideraram
mais segura.
Souza conta que passou a entregar o dinheiro com caixas de vinho. Ele
diz que, das 12 garrafas, tirava 10 e preenchia o espaço aberto com o
dinheiro. As duas garrafas que sobravam serviam para fazer barulho,
quando alguém as pegasse. Com isso, não levantariam suspeitas.
Fanini e Richa
Para dar garantias ao empresário, Fanini sempre afirmava ser amigo
pessoal de Beto Richa. Em novembro de 2014, o ex-diretor da Secretaria
da Educação contou que viajaria com o governador.
Ambos levariam as mulheres para passear no Caribe, no México, e em
Miami, nos Estados Unidos. Fotos dessa viagem fazem parte de uma ação
ligada às investigações da Operação Quadro Negro.
Conforme o depoimento, Fanini pediu US$ 20 mil para o empresário. Souza
diz que procurou um doleiro, comprou US$ 40 mil e deu a metade para
Fanini.
Mesada para Richa
No depoimento, Souza disse que começou a pagar uma mesada de R$ 100 mil
para o governador. Em janeiro de 2015, Fanini o chamou para dizer que
teve uma reunião com Richa e ficou acertado que precisariam levantar a
quantia.
Segundo o delator, o ex-diretor da Secretaria afirmou que o dinheiro
ajudaria a financiar a campanha de 2018 Beto Richa ao Senado, do irmão
dele, Pepe Richa, para deputado federal, e do filho do governador,
Marcelo Richa, para deputado estadual.
Souza afirma que concordou com a proposta e começou a fazer os repasses
no mesmo mês da reunião. Os pagamentos seguiram, pelo menos, até junho
de 2015, quando Fanini foi exonerado do cargo, pouco antes da descoberta
das fraudes na Secretaria da Educação.
O que dizem os citados
Por meio de nota oficial, Pepe Richa negou que tivesse conversado com Eduardo Lopes sobre campanha eleitoral.
"O depoimento do delator traz acusações absurdas e mentirosas que
sequer foram referendadas pela Justiça. As obras do setor de Educação
são contratadas diretamente pela Secretaria de Educação, sem qualquer
intervenção ou participação da Secretaria de Infraestrutura e Logística,
atualmente sob os meus cuidados", disse o secretário.
Marcelo Richa rechaçou qualquer citação ao nome dele e disse que não
conhece Eduardo Lopes. "As suposições do delator Eduardo Lopes de Souza
são inverídicas e sem qualquer prova", disse Marcelo Richa que é
secretário de Esportes da Prefeitura de Curitiba.
A defesa de Eduardo Lopes disse que devido ao sigilo da colaboração não
vai se manifestar. O advogado de Fanini afirmou que não vai se
manifestar.
Homologação
O acordo de delação de Eduardo Lopes de Souza foi encaminhado ao
Supremo Tribunal Federal (STF). O ministro Luiz Fux está analisando o
caso.
Caso seja homologado, Souza deverá apresentar provas à Justiça sobre os
atos ilegais que descreveu nos depoimentos. Em troca, ele poderá
receber benefícios, como redução ou extinção de eventuais penas pelos
crimes dos quais é acusado.
Já as autoridades policiais e o Ministério Público poderão abrir
investigações para apurar todos os ilícitos apontados na delação. Não há
prazo para que isso ocorra.
Leia a nota divulgada pelo governador Beto Richa
"O
governador Beto Richa classifica as declarações do delator como
afirmações mentirosas de um criminoso que busca amenizar a sua pena.
Tais ilações sequer foram referendadas pela Justiça. E suas colocações
são irresponsáveis e sem provas. O governador afirma que nunca teve
qualquer contato com o senhor Eduardo Lopes de Souza e sequer fez ou
pediu para alguém fazer qualquer solicitação a essa pessoa para a
campanha eleitoral de 2014. Todas as doações eleitorais referentes à
eleição de 2014 seguiram a legislação vigente e foram aprovadas pela
Justiça Eleitoral.
O
governador lembra ainda que foi a própria Secretaria de Estado da
Educação que, em abril de 2015, detectou disparidades em medições de
algumas obras de escolas e abriu auditoria interna sobre o caso. De
imediato, o governador determinou a demissão de todos os envolvidos. As
informações levantadas internamente também foram repassadas à Polícia
Civil, Ministério Público e Tribunal de Contas do Estado para que
tomassem as medidas cabíveis. É importante salientar ainda que a Polícia
Civil do Paraná investigou e prendeu os suspeitos na denominada
Operação Quadro Negro, a qual jamais teve qualquer tipo de informação
antecipada.
Cabe
lembrar ainda que, conforme despacho do govenador Beto Richa, a
construtora Valor e seus responsáveis foram punidos administrativamente
pelo Governo do Estado. Nesse despacho do governador, a empresa foi
declarada inidônea para participar de licitações com a administração
púbica e foi aplicada uma multa de R$ 2.108.609,84.
Seguindo
determinação do governador, a Procuradoria Geral do Estado também
entrou com ações civis públicas na 1.ª, 4.ª e 5.ª Varas da Fazenda
Publica por dano ao erário contra a construtora Valor e pessoas ligadas à
empresa, incluindo o senhor Eduardo Lopes de Souza. Os pedidos de
indenização pelos danos causados ao Estado somam R$ 41.091.132,80. Há
ainda ações de improbidade administrativa contra os envolvidos, que
também buscam ressarcimento dos cofres públicos.
Ou seja, todas as medidas cabíveis foram tomadas para reparação e ressarcimento do erário público e punição dos envolvidos."
Nota divulgada por Pepe Richa
"O
depoimento do delator traz acusações absurdas e mentirosas que sequer
foram referendadas pela Justiça. As obras do setor de Educação são
contratadas diretamente pela Secretaria de Educação, sem qualquer
intervenção ou participação da Secretaria de Infraestrutura e Logística,
atualmente sob os meus cuidados.
Jamais
tratei de qualquer assunto relacionado à campanha eleitoral de 2014 ou
qualquer outra campanha com o senhor Eduardo Lopes de Souza ou com
qualquer pessoa indicada por ele.
É
importante lembrar que a investigação sobre a construtora teve início
em um processo de apuração interno do próprio governo. Espero que a
verdade dos fatos venha à tona."
Nota de Marcelo Richa
"O
secretário Marcello Richa afirma que as suposições do delator Eduardo
Lopes de Souza são inverídicas e sem qualquer prova. Estranha que uma
delação que nem homologada foi se torne verdade absoluta. Rechaça
qualquer citação referente a recebimento de valores e ressalta que não
conhece ou teve qualquer contato com o senhor Eduardo.
Salienta que é o maior interessado em ver a verdade revelada e que
irá tomar todas as medidas judiciais cabíveis para que isso ocorra."
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