By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: UOL – Imagem: Pedro Ladeira (Folhapress)
A
defesa do presidente da República, Michel Temer (PMDB), pediu nesta sexta-feira
(9) o arquivamento do inquérito que corre contra ele no STF (Supremo Tribunal
Federal), no qual é investigado por suspeita de envolvimento nos crimes de
corrupção, organização criminosa e obstrução à Justiça.
Em
petição assinada pelos advogados Antônio Cláudio Mariz de Oliveira e Sérgio
Eduardo Mendonça de Alvarenga, e endereçada ao ministro do STF Edson Fachin, a
defesa afirma que as 82 perguntas enviadas pela PF (Polícia Federal) se
desviaram do tema do inquérito e, por isso, o presidente da República não as
responderá.
Os
advogados alegam que, embora o inquérito seja relativo a fatos relacionados ao
exercício da função na Presidência, diversas perguntas referem-se a momentos
anteriores ao mandato de Temer e a terceiras pessoas.
"Culto
Ministro, todas as considerações acima possuem o condão de mostrar as razões
que levaram o Sr. Presidente a não responder ao questionário feito. Sem embargo
do sentimento de injustiça e do sofrimento pessoal e de seus familiares,
permanece pronto a atender quaisquer demandas de Vossa Excelência e do Excelso
Supremo Tribunal Federal, tendo e passando a certeza de que dará continuidade à
obra a qual se propôs: Contribuir eficazmente para a construção da Nação dos
nossos sonhos", diz trecho da petição."
Pelo
exposto, em face da absoluta inanição de elementos probatórios mínimos a
indicar o "fumus boni juris" [sinal de bom direito] necessário a
lastrear a propositura de uma denúncia, requer-se a remessa dos autos ao E.
Procurador Geral da República para que Sua Excelência, na qualidade de titular
da ação penal, e, especialmente, como fiscal do cumprimento da lei, promova o
arquivamento do presente Inquérito, como expressão do ideal de Justiça!",
encerra o texto protocolado no inquérito do STF.
Segundo
os advogados de Temer, se as perguntas tivessem sido feitas pelo ministro
Fachin, questionamentos de natureza pessoal, opinativa, referentes a terceiras
pessoas e que partem de suposições ou hipóteses não teriam sido formuladas. Sem
citar diretamente a Polícia Federal, argumentam que a corporação quis
comprometer o presidente e atuou com falta de isenção e imparcialidade.
O
prazo para a devolução das respostas terminava nesta sexta às 17h, e a petição
foi protocolada pelos defensores de Temer às 16h51. Os questionamentos foram
entregues na segunda (5), pela PF, às 16h30, aos advogados de Temer, que
inicialmente tinham um prazo de 24 horas para devolvê-los, de acordo com a
corporação. No entanto, a defesa de Temer pediu prorrogação do prazo ao
ministro do STF Edson Fachin, relator da Lava Jato no tribunal, que acatou e
determinou as 17h desta sexta como horário limite. Fachin também informou que
Temer poderia não responder as perguntas, caso assim preferisse.
"Inquirição invasiva"
Na
petição, a defesa de Temer diz que o presidente está sendo "alvo de um rol
de abusos e de agressões aos seus direitos individuais e à sua condição de
mandatário da Nação". No trecho do texto, o próprio advogado de Temer
errou o nome do cliente e digitou "Michael".
"O
Presidente e cidadão Michael [sic] Temer está sendo alvo de um rol de abusos e
de agressões aos seus direitos individuais e à sua condição de mandatário da
Nação que colocam em risco a prevalência do ordenamento jurídico e do próprio
Estado Democrático de Direito. O vulgo tem questionado 'mas o que estão fazendo
com o Presidente da República' e os seus amigos indagam 'por que o Michael está
sendo tratado desta forma''", argumentou.
Em
outra crítica à Polícia Federal, a defesa relembra quando, em 24 de maio, uma
escrivã da corporação ligou pedindo que fosse marcado o depoimento de Michel
Temer. Na avaliação da defesa, o pedido foi "inusitado, nada
ortodoxo" e gerou "estupefação"."[...] até por representar
um desrespeito à Presidência, bem como a violação das normas mais comezinhas de
chamamento para um depoimento policial. Houve absoluta e inconveniente falta de
formalidades mínimas, as quais dão legitimidade à uma investigação. Por óbvio,
o inusitado telefona foi ignorado", diz.
Ao
decorrer da petição, a defesa do presidente volta a questionar a validade da
gravação feita pelo empresário Joesley Batista, um dos donos da JBS, da
conversa entre ele e Temer. Os advogados alegam que a fita foi alterada e
gravada com o intuito de assegurar ao empresário a delação premiada ao
Ministério Público. Nas palavras da defesa, em troca, Joesley conseguiu
"benesses inexplicáveis e inacreditáveis". Na petição, também há a
reclamação de que a perícia da gravação ainda não foi concluída.
Para
a defesa do presidente, ele foi "coadjuvante de uma comédia bufa"
cuja encenação foi feita por um empresário "e criminoso confesso". Os
advogados ainda afirmam que a "inquirição" é "invasiva,
arrogante, desprovida de respeito e do mínimo de civilidade", e voltam a
ressaltar que o questionário é um "acinte à sua dignidade pessoal e ao
cargo que ocupa", além de ir contra a legislação no que diz respeito aos
direitos individuais e à Constituição.
Ainda
ao criticar a investigação contra Temer, os advogados afirmam que a lógica foi
subvertida. A argumentação é que se passou a investigar uma pessoa e não os
supostos crimes, "como se vigorasse em nosso ordenamento o odioso Direito
Penal do Autor".
Mariz
argumenta que uma investigação criminal não é um "procedimento
fiscalizatório" ou "ato de prospecção". "A 'notitia
criminis' [comunicação feita à autoridade policial da existência de um crime] é
o ponto de partida e o ponto de chegada. Investiga-se o que ela contém, e não
mais. Não se parte de uma pessoa, de um alvo eleito a esmo para, então,
escarafunchar a sua vida à cata de algum escorregão, de uma falta, de uma
nódoa.
"Nos
últimos dias, assessores e aliados de Temer têm feito críticas ao
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e dito que ele está
"alucinado" em uma "cruzada" contra o presidente. Na
petição pelo arquivamento, pela primeira vez, há uma crítica pública a Janot.
"Declaração
açodada, própria de quem, antes mesmo de quaisquer investigações, já está com
uma prévia visão dos fatos, independente da vinda das provas. Acusará, ao que
parece, com provas, sem provas ou mesmo contra as provas", diz a defesa ao
se referir à acusação de Janot de que Temer teria praticado corrupção passiva.
O que
a PF perguntouEntre as 82 perguntas da PF, havia questionamentos sobre o teor
da gravação feita pelo empresário da JBS Joesley Batista; a relação com o
ex-assessor e ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR); e se Temer sabia de
um suposto pagamento de propina para manter o silêncio do ex-presidente da
Câmara do Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ).Com as perguntas, a PF quis saber o significado da expressão "tem
que manter isso" dita por Temer a Joesley na gravação feita pelo
empresário. Segundo os investigadores, Temer estaria dando aval para que
Joesley mantivesse o pagamento mensal a Cunha e sua família e, com isso,
comprar o silêncio do ex-deputado.
A PF
questionou Temer se ele tinha conhecimento desse pagamento a Cunha e a Lúcio
Funaro, apontado como operador do ex-deputado preso, e se os dois têm fatos a
informar sobre o presidente em uma eventual delação premiada.
Os investigadores também perguntam se é comum o
presidente receber empresários em encontros que não aparecem na agenda oficial,
como no caso de Joesley, e se o presidente pode citar três casos em que isso
teria ocorrido.
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