By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: G1 – Imagem: Geraldo Magela / Agência Senado)
O presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), Ives Gandra Filho,
disse nesta quarta-feira (10) durante audiência pública sobre a reforma
trabalhista no Senado que considera "razoável" um intervalo de 30
minutos para o almoço do trabalhador.
Entre outros pontos, a reforma – aprovada na Câmara e que tramita no
Senado – estabelece regras para que acordos entre empresários e
representantes dos trabalhadores passem a ter força de lei, o chamado
"negociado sobre o legislado".
Um dos pontos que podem ser tema de acordo, segundo a proposta, é o
intervalo intraturno em locais com jornada de trabalho superior a seis
horas. O período pode ser usado, por exemplo, para almoço do empregado. A
proposta permite que, após negociação, o tempo seja reduzido de uma
hora para 30 minutos.
“Não é que necessariamente vai virar agora 30 minutos. O fato de
admitir a negociação significa que não vai ser necessariamente uma hora
para todas as categorias [...]. O que eu estou dizendo é que 30 minutos é
algo que é razoável”, afirmou o magistrado na audiência pública
conjunta das comissões de Assuntos Sociais (CAS) e de Assuntos
Econômicos (CAE).
Ives Gandra Filho citou como exemplo o caso de trabalhadores do setor
de transporte rodoviário que, segundo ele, procuraram a Justiça do
Trabalho para pedir a redução do intervalo.
"Eles diziam: ‘Não queremos ficar uma hora aqui no posto. Em meia-hora,
eu como e já quero seguir caminho, chegar mais cedo’. Nós acabamos
mudando súmula do TST em relação ao trabalhador rodoviário, admitindo
que a negociação deles era válida”, afirmou,
Outro participante da audiência pública, o procurador-geral do
Ministério Público do Trabalho, Ronaldo Curado Fleury, criticou o
possível encurtamento do intervalo intrajornada.
“Se coloca que pode reduzir para meia-hora, mas não se condiciona o
fornecimento de um refeitório para os empregados. E se o restaurante
mais próximo do local ficar a 15 minutos? 15 minutos para ir, 15 minutos
para voltar, acabou o tempo de refeição”, disse.
“E o intervalo de uma hora não é luxo. ‘Ah, o trabalhador vai ficar
jogando dominó’. Não. É descanso para o corpo, é fisiológico. O início
do processo digestivo induz ao sono, o risco aumenta”, disse Fleury.
Gestantes
Na audiência, o ministro Ives Granda Filho também comentou sobre o
ponto da reforma trabalhista que trata do trabalho de gestantes em
locais insalubres.
Atualmente, a lei proíbe que mulheres grávidas ou lactantes trabalhem
em ambientes com condições insalubres. O texto sob análise do Senado
prevê que a empregada gestante seja afastada das atividades consideradas
insalubres em grau máximo enquanto durar a gestação.
Quando o grau de insalubridade for médio ou mínimo, ela poderá
apresentar atestado de saúde, emitido por um médico de confiança da
mulher, que recomende o afastamento dela durante a gestação.
O ministro disse que o “excesso de protecionismo” para a gestante “está
gerando uma redução do mercado de trabalho para a mulher em idade
reprodutiva”.
“Uma das coisas que mais nos aflige na Justiça do Trabalho é ver que o
excesso de protecionismo para a gestante está gerando uma redução do
mercado de trabalho para a mulher em idade reprodutiva”, expôs o
magistrado.
Esse ponto é um dos mais criticados da reforma trabalhista. Várias
parlamentares demonstraram preocupação com essa alteração na legislação.
Ives Gandra Filho afirmou ainda que nenhum dispositivo do projeto da
reforma trabalhista “afeta diretamente a Constituição”. Além disso, no
entendimento do ministro, a proposta proporciona maior segurança
jurídica.
Defensores da medida afirmam que a flexibilização das leis do trabalho é
necessária porque, além de modernizar uma lei antiga, estimula a
geração de empregos no país.
Isso é contestado por oposicionistas, que dizem que o aumento da oferta
de emprego não passa pela reforma das leis. Para eles, a geração de
postos de trabalho é consequência do aumento da demanda.
Votação
Antes de ser votada pelo plenário do Senado, a proposta de reforma
trabalhista precisa passar por três colegiados da Casa. Além da CAE e da
CAS, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) também se debruçará
sobre o tema.
O presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), já afirmou que,
assim que a reforma passar pelas comissões – onde pode sofrer alterações
–, pautará o projeto “de imediato” no plenário da Casa.
Eunício declarou ainda que o presidente da República, Michel Temer,
comprometeu-se a editar uma medida provisória para fazer alterações à
reforma que forem consensuais entre líderes do Senado.
O governo tem pressa na aprovação da proposta e a estratégia de editar
uma MP passaria por um acordo com o Senado para aprovar o texto da
Câmara sem fazer alterações.
Isso evitaria um regresso da reforma trabalhista para nova análise dos deputados, o que retardaria a sua entrada em vigor.
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