By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: TERRA – Imagem: Divulgação
Segundo pesquisa da consultoria Ipsos, à qual a BBC Brasil teve acesso
em primeira mão, 52% dos entrevistados apoiam a convocação de um pleito
antecipado para outubro, quando já ocorrem as eleições para prefeitos e
vereadores em todo o país.
O percentual de 52% que prefere essa saída para a crise é a soma de
dois grupos: 38% que dizem que o melhor seria Temer ser mantido no cargo
e convocar a nova disputa eleitoral, mais os 14% que preferem que Dilma
volte ao Palácio do Planalto e seja ela a dar prosseguimento a nova
eleição.
A Constituição brasileira estabelece que a próxima eleição para o cargo
mais importante do país deve ocorrer apenas em 2018 - a antecipação das
eleições, na verdade, só pode ocorrer com aprovação de ampla maioria do
Congresso (três quintos dos parlamentares) ou se os cargos de Temer e
Dilma ficarem vagos ao mesmo tempo ainda neste ano, por exemplo em caso
de renúncia simultânea. Politicamente, é difícil que a medida seja
aprovada.
Já outros 20% responderam que o melhor seria que a petista retornasse
ao cargo de presidente e concluísse os quatro anos de mandato, enquanto
16% disseram preferir que seu vice fosse definitivamente empossado no
comando do país. Doze por cento não souberam ou não quiseram responder.
A expectativa é de que a decisão final do Senado sobre se Dilma volta
ou não à Presidência da República saia no final de agosto. Caso ela seja
condenada por crime de responsabilidade devido a supostas
irregularidades na gestão das contas públicas, cenário mais provável
hoje, Temer deve presidir o país até 2018.
A pesquisa, realizada entre os dias 1 e 12 de julho, ouviu 1.200
pessoas presencialmente, em 72 cidades do país. Sua margem de erro é de
três pontos percentuais.
"Isso (o apoio à eleição antecipada) ocorre porque a opinião pública
queria a saída de Dilma Rousseff, mas não necessariamente a entrada de
Michel Temer", nota Danilo Cersosimo, diretor da Ipsos Public Affairs e
responsável pela pesquisa.
Segundo ele, o levantamento de maio, antes do afastamento de Dilma, já
apontava que a maior preocupação do brasileiro com a troca de presidente
era permanecer tudo como está. "E é esta a percepção da opinião pública
no momento", afirma.
Polêmica
Nos últimos dias, uma pesquisa sobre esses mesmo tema, realizada pelo
instituto Datafolha, empresa do jornal Folha de S.Paulo, gerou forte
controvérsia e acusações de "fraude jornalística" ao grupo.
O jornal publicou no dia 16 de julho que, ao serem questionados sobre
"o que é melhor para o país", 50% dos entrevistados disseram preferir
que Temer continue presidente, enquanto 34% responderam querer a volta
de Dilma. Segundo a reportagem, apenas 3% apoiaram a realização de novas
eleições.
O dado chamou atenção pois indicava uma queda brusca em relação a
resultados anteriores do instituto, que apontavam apoio da maioria da
população ao pleito antecipado.
No entanto, revelou-se, ao longo da semana, que na verdade a pergunta
feita pelo Datafolha não questionava genericamente o que seria melhor
para o Brasil, mas indicava apenas duas opções: "Na sua opinião, o que
seria melhor para o país: que Dilma voltasse à Presidência ou que Michel
Temer continuasse no mandato até 2018?", perguntou o instituto.
Além disso, foi descoberto também que a pesquisa fez uma outra pergunta
diretamente sobre apoio a eleições antecipadas e 62% responderam querer
que Dilma e Temer renunciem para que o novo pleito possa ser realizado.
No entanto, a Folha não noticiou essa informação inicialmente.
"O resultado da questão sobre a dupla renúncia de Dilma e Temer não nos
pareceu especialmente noticioso, por praticamente repetir a tendência
de pesquisa anterior e pela mudança no atual cenário político, em que
essa possibilidade não é mais levada em conta", disse o editor-executivo
da Folha, Sérgio Dávila, em texto publicado pelo jornal.
Já a ombudsman da Folha, Paula Cesarino Costa, disse que "a Folha errou e persistiu no erro".
No caso da pesquisa da Ipsos, a consultoria perguntou "Na sua opinião, o
que é melhor para o Brasil?" e solicitou que o entrevistado escolhesse
entre quatro opções: a volta de Dilma; a permanência de Temer; a
convocação de eleições pela petista; e a convocação do pleito pelo
peemedebista.
"Ao fazer a pergunta, nós demos um cartão com essas quatro alternativas
para o entrevistado escolher uma resposta. Existem quatro versões do
cartão, em que a ordem das alternativas muda, que são rodiziados por
entrevistador para que não haja viés (no resultado)", explicou
Cersosimo.
Apoio menor ao impeachment
Os dados divulgados nesta terça-feira pela Ipsos são parte de um amplo
levantamento feito mensalmente no país, desde 2005, chamado Pulso
Brasil.
A pesquisa de julho também mostrou a quarta queda consecutiva no apoio
ao impeachment de Dilma, que recuou de 54% em junho para 48% neste mês.
Já o percentual de quem não apóia o afastamento da presidente passou de
28% para 34%. Os demais estavam indecisos ou não quiseram responder.
Quanto a avaliação pessoal de Temer e Dilma, a rejeição a ambos permanece bastante elevada.
De acordo com o levantamento, entre junho e julho, a porcentagem de
pessoas que desaprovava totalmente ou um pouco o interino recuou de 70%
para 68%. Para a petista, o indicador recuou de 75% para 71%. A
aprovação de Dilma, por sua vez, foi de 20% para 25%. E a de Temer ficou
estável em 19%.
Os resultados, em geral, indicam que o apoio à Dilma é maior no
Nordeste e entre pessoas de menor renda e escolaridade. Temer tem mais
aprovação nas demais regiões do país e entre os mais ricos e com mais
anos de estudos.
O levantamento de julho mostrou leve melhora em seu desempenho nas
classes D e E, cujo percentual de aprovação subiu de 15% para 19%, o que
pode indicar uma reação ao recente reajuste de 12,5% ao Bolsa Família,
disse Cersosimo.
Já o crescimento do apoio da classe média e alta ao peemedebista
depende "de uma resposta mais clara e um apoio mais sólido em relação ao
combate à corrupção", acredita o diretor da Ipsos.
'Rumo errado'
A ampla maioria (89%) dos entrevistados também disse que o país está no rumo errado, resultado idêntico ao de junho.
Já a avaliação do governo federal - que havia apresentado um melhora
significativa na passagem de maio para junho, ou seja, logo após o
afastamento de Dilma e a posse interina de Temer - piorou em julho.
A soma dos que avaliaram o governo Temer como ruim ou péssimo passou de
43% em junho para 48% neste mês. No início de maio, quando Dilma ainda
presidia o país, 69% reprovavam seu governo.
O percentual dos que consideram a administração interina boa ou ótima,
por sua vez, variou de 6% para 7%, enquanto a avaliação regular ficou
estável (29%).
"De um modo geral, ele (Temer) tem uma desaprovação generalizada. Ele
não deu uma resposta mais clara e objetiva em relação aos grandes
problemas que afligem a população hoje - desemprego, inflação - e os
problemas sociais que decorrem disso, como violência", nota Cersosimo.
"As pessoas ainda não perceberam mudança. E as questões mais urgentes,
como inflação e desemprego, isso não se resolve de uma hora para outra",
acrescentou.
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