By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: YAHOO – Imagem: Divulgação
O ex-presidente do Uruguai, José Pepe Mujica, disse hoje (27) que o posicionamento dos deputados
brasileiros durante a votação da admissibilidade do processo de
impeachment da presidenta Dima Rousseff prejudicou a imagem do Brasil.
No último dia 17, a Câmara deu o aval para o pedido de destituição de
Dilma seguir para o Senado.
“Essa
transmissão [da votação] fez mal ao Brasil como nação, ao prestígio do
Brasil. Baixaram a categoria do Brasil na consideração mundial. Se
tivessem votado sem fundamentar, teria sido mais saudável para o futuro
do Brasil” disse hoje (27) o senador uruguaio licenciado em entrevista a
jornalistas brasileiros.
“É
paradoxal que queiram tirar a presidenta um monte de gente que tem
acusações [criminais], que votam por um monte de coisas, como aquela que
votou pela honestidade do marido e no outro dia o marido é preso”,
criticou Mujica, ao mencionar o caso da deputada federal Raquel Muniz (PSD-MG).
Casada com o prefeito de Montes Claros (MG), ela citou o marido, Ruy
Muniz, com o exemplo de gestor público durante a votação da
admissibilidade do impeachment. No dia seguinte (18), o prefeito foi
preso pela Polícia Federal em uma operação para apurar a prática dos
crimes de falsidade ideológica, dispensa indevida de licitação pública,
estelionato, prevaricação e peculato.
Para
Mujica, os grandes meios de comunicação brasileiros fizeram uma
campanha contra o PT e os partidos mais à esquerda, enfatizando os erros
e desvios cometidos por filiados a essas legendas. “A direita tem o
controle dos grandes meios de comunicação e os tem utilizado para criar
um senso comum. Desnudando nossos defeitos e mostrando o que não são
defeitos da esquerda ou do PT, mas da sociedade brasileira”, disse.
“O
efeito da corrupção é um patrimônio brasileiro, não é um problema do
PT”, disse o uruguaio sobre a situação que avaliou como sistêmica no
país. “É um problema que passa por todo o sistema político. Tem gente
acusada de todos os partidos. Ela [a corrupção] é tão velha quanto o
Brasil”, acrescentou.
Na
opinião de Mujica, o grande número de partidos do sistema brasileiro é
um dos fatores que tira o foco do debate de ideias e aproxima a política
dos interesses de indivíduos ou de pequenos grupos. “Eu não sei como se
pode administrar um país com 29 ou 30 partidos. Podem haver 30 projetos
políticos? Não! Isso tem mais a ver com interesses pessoais do que
ponto de vista ideológico”. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral,
há 35 partidos registrados no país.
Efeitos da crise
Associada
à campanha midiática, o ex-presidente uruguaio acredita que a crise
econômica também contribui para a derrubada do governo Dilma. “A direita
usou muito bem os erros que cometemos. Mas o fez em um momento
histórico que resumo como: a conjuntura econômica estava a favor para
gerar descontentamento”, ressaltou.
Sem
o cenário econômico não fosse desfavorável, o impeachment de Dilma
Rousseff não iria adiante, segundo Mujica. “Se as forças conspirativas
da direita dão resultado, é porque tem algo. A conspiração existe
sempre.”
Um
dos principais efeitos da crise, na avaliação do uruguaio, é a retirada
de apoio da classe média ao governo. “Sempre, na história da
humanidade, a pobre classe média teve medo. Teve medo de perder”, disse.
Nessa parcela dos que estão insatisfeitos com Dilma, Mujica incluiu
parte da chamada nova classe média, que teve aumento do poder aquisitivo
nos últimos anos. “A mais descontente era parte dessa classe média que
emergiu e que não sabe o porquê. Não se dá conta que foram as políticas
difíceis de pôr em prática que os fizeram parte da sociedade.”
Segundo
o ex-presidente, o capitalismo tem crises periódicas. “O sistema
funciona em ciclos. Um ciclo de queda e um de ascendência.”
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