É na missa de cura e libertação, nas noites de quinta-feira, que ele
mostra o seu virtuosismo performático, com um repertório de músicas
animadas. Ergue as mãos aos céus e tem todos os movimentos copiados pelo
público, que precisa chegar com pelo menos duas horas de antecedência
para garantir um lugar junto ao novo fenômeno católico.
—Eu não
imito o Elvis no altar. Levantamos os braços, mas não existe uma
coreografia. Deixo que o Espírito Santo nos conduza e ficamos extasiados
de tanta alegria. Tudo é muito espontâneo — descreve o padre, de 46
anos, que celebra missa uma vez por dia, exceto aos domingo, quando são
três horários.
O chamado de Deus
A vocação chegou mais
intensamente quando estava noivo, por volta dos 30 anos. O casamento
estava marcado, mas a religião fez o coração bater mais forte.
—
Minha família é muito católica, sempre participei de grupos de oração.
Já ouvia um chamado de Deus, mas fui ignorando. Na época era jovem,
namorava... Fiquei noivo, mas ia às missas e me via no lugar do padre.
Apesar de gostar muito dela, senti um chamado mais forte do que eu. Já
tínhamos agendado data e igreja — lembra ele, que não contou
imediatamente com a compreensão da moça: — Ela não entendeu a princípio.
Não era mais jovenzinha, tinha uns 30 e poucos anos. Foi difícil, de
repente viu a vida em que ela estava apostando cair pelas mãos. Mas não
poderia me casar com alguém que eu não faria feliz, e eu também não
seria.
O sacerdócio já possibilitou o reencontro com professores
de escola, amigos de infância e de trabalho, que foram ouvir e ver o
padre de perto. A ex-noiva, no entanto, ainda não deu o ar da graça.
—
Não a vi na missa, nem os parentes dela que conheci. Gosto de ir lá no
fundo cumprimentar as pessoas, não lembro de tê-los abraçado.
Assim como Elvis real, o padre também lida com assédio. Respeitoso, ele frisa.
—
Claro que, quando jovem, a gente está aberto a relacionamentos,
apareceram muitas moças interessadas. Como padre, escuto elogios, mas
existe um respeito bem grande. Elas não ousam muito. Como homem de
espiritualidade, acredito que não existe problema em admirar o belo.
O penteado em dia não esconde a vaidade. Parte do seu tempo ele dedica à boa apresentação para o fiés.
—
É importante estar bem e ter saúde. Por isso, cuido do meu copro. Tento
ir à academia quatro vezes por semana e gosto de me vestir bem. Procuro
cuidar do meu visual. Estou na frente do povo, mas não é minha intenção
vender a imagem do meu físico. Quero ficar bem porque aprendi a me amar
como homem e sacerdote — explica o religioso, revelando como mantém os
fios impecáveis: — Sempre usei o topete. A diferença é que agora ele
está grisalho (risos). Corto uma vez por mês.
No próximo dia 3 de
setembro, ele lança o novo álbum na igreja, que foi construída com
doações e arrecadações da venda do CD “Eu vou por amor”. O espaço,
inaugurado há dois anos, já ficou pequeno.
— A igreja é grande,
muito bonita, inclusive as noivas ficam maluquinhas. Já estou pensando
em como adquirir um lugar maior para levar essa multidão de gente. Um
galpão, por exemplo — imagina ele, comentando as músicas do CD: — São 13
faixas, alegres e dançantes, de pop rock. Regravei sucessos como
“Derrama o seu amor aqui’’ e o “Senhor é rei”, que dá nome ao álbum.
Tenho vontade de lançar uma que fiz com a musicalidade de “I’ll never
know”, de Elvis, mas com outra letra. Na igreja, já cantei “Ponha sua
mão na do meu Senhor”, que ele canta em inglês.
O padre, que sonha aprender tocar guitarra e piano, se prepara para fazer shows, mas prioriza as atividades na paróquia.
— O show é uma forma de transmitir espiritualidade e um momento de oração para quem não pode vir até mim.
Por trás da batina
Vaidade
Padre Marcos conta com uma costureira para criar suas roupas mais personalizadas.
Profissões
Ele começou a trabalhar aos 15 anos, como office boy. Formado em Geografia, deu aulas em vários colégios durante sete anos.
Coleção
A partir do primeiro salário, passou a comprar discos e revistas do Elvis.
Sacerdócio
Após
terminar o noivado, esperou um ano e meio para entrar no seminário.
Queria ter certeza de sua vocação. Em setembro, completa oito anos como
padre.
Timidez
Quando jovem, era tão tímido que chegou a ser gago.
Família
É filho de um tapeceiro, morto em 2005, e de mãe dona de casa. Tem três irmãos. Adora ir ao shopping e passear com a família.
Números
1.500 fiés se espreme na igreja, que tem capacidade para 600 pessoas sentadas
7 integrantes, entre instrumentistas e vocais, formam a banda que acompanha o padre
R$ 3 milhões é o valor do acabamento interno do templo construído com arrecadações
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