By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: Rádio Najuá – Imagem: Gazeta do Povo
O projeto é desenvolvido desde 2009 pelo Instituto Nacional de Inovação em Diagnósticos para a Saúde Pública (Indi-Saúde), sob coordenação da FioCruz, em Curitiba. A pesquisa pioneira envolve mais de 40 cientistas de áreas distintas, como Biologia Molecular, Nanotecnologia, Imunologia, Engenharia Eletrônica, Física e Robótica. Dezenas de cérebros privilegiados debruçados em torno de um objetivo comum.
Os pesquisadores chegaram a dispositivos “multitestes” que permitem o diagnóstico rápido, confiável e barato de várias doenças do sangue, em um único exame. O método é baseado em um chip multi-fluídico (um disco de cerca de cinco centímetros de diâmetro), ao centro do qual se pinga uma gota do sangue do paciente. O produto é inserido em um aparelho (do tamanho de uma garrafa de um litro) que faz a “leitura” do material. Em 20 minutos, tem-se um diagnóstico, de uma só vez.
“É uma tecnologia que poderá ser levada a lugares pequenos e fazer o teste na hora. Você pode pôr o aparelho em um barco, por exemplo, e ir a uma comunidade isolada do Amazonas”, afirma o físico Wido Herwig Schreiner, vice-coordenador do Indi-Saúde.
Hoje, é necessário fazer um teste para cada tipo de doença. Via de regra, os exames são feitos em clínicas de diagnóstico, que trabalham com máquinas e insumos importados – geralmente dos Estados Unidos – e cujo resultado demora dias para ser revelado. Além de significar independência em relação à tecnologia estrangeira, o modelo “paranaense” implicará em economia: estima-se que cada teste não custe mais de US$ 10.
“A economia vai ser de centenas milhões de reais ao ano. Ao invés de fazer sete reações, você faz uma só. Só aí, você já tem seis testes de economia”, diz o professor Samuel Goldenberg, coordenador do Indi-Saúde.
O desenvolvimento da tecnologia deve ser finalizado formalmente ainda neste ano. Em seguida, o produto poderá ser submetido à análise da Agência Nacional de Vigilância Sanitária e ao licenciamento do Ministério da Saúde. Aí, começa uma nova luta: conseguir uma empresa para fabricá-lo em larga escala.
Estudo também foca doenças negligenciadas
Os estudos do Indi-Saúde também focam nas chamadas “doenças negligenciadas”, definidas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como aquelas causadas por agentes infecciosos e parasitários, que são endêmicas em população de baixa renda, como dengue e malária, por exemplo.
Uma pesquisa divulgada em novembro de 2013 pela OMS, Médicos Sem Fronteiras (MSF) e três universidades europeias apontou que dos 850 medicamentos e vacinas surgidos entre 2000 e 2011, apenas 4% se destinavam às doenças negligenciadas. E dos quase 150 mil estudos clínicos para novos produtos, apenas 1% era voltado a este tipo de enfermidade.
“É muito comum que a indústria farmacêutica mundial não se foque nessas doenças, por dois motivos simples: são males que acometem países pobres e que não se revertem em dinheiro. Então, este é um problema de saúde pública estratégico para o Brasil. E é algo que reforça a importância social da nossa pesquisa”, diz Arandi Bezerra Júnior.
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