domingo, 12 de junho de 2011

Time salário-mínimo faz bonito na divisão de acesso do Paranaense


A vice-liderança do Serrano na Divisão de Acesso do Paranaense 2011 pode ser considerada a vitória da humildade. O time de Prudentópolis, cidade colonizada por ucranianos e habitada por apenas 50 mil pessoas, encara hoje o Sport Campo Mourão, no Bom Jesus da Lapa, em Apucarana, para defender posição com uma das folhas de pagamento mais modestas do campeonato.
O gasto do clube com salários não ultrapassa R$ 25 mil mensais, motivo de orgulho para o presidente do Serrano, Valdir Cagnini. “O investimento mensal de times como Londrina (com quem divide a liderança), Grêmio Metropolitano Maringá e Foz é tudo R$ 150 mil por mês. Com o dinheiro deles eu toco o campeonato inteiro aqui em Prudentópolis”, ressalta. A média salarial dos atletas do Serrano é de R$ 700. Apenas um jogador recebe R$ 2 mil.
Sem centro de treinamento próprio, o Serrano divide seus trabalhos pré-jogo entre dois lugares. Um deles é o estádio municipal Newton Agibert, com capacidade para 3.500 pessoas, onde manda as partidas. O outro é um campo de várzea da cidade. “Nesse campinho não tem alambrado, vestiários apropriados, nem nada. Só o campo”, conta Cagnini.
Boa parte do elenco de 28 jogadores mora no alojamento do clube, junto de atletas juniores. As condições básicas são cumpridas à risca no local de moradia coletiva. Mas o luxo, como conta Cagnini, todos terão de reservar para o futebol dentro de campo. “Nós queremos nos dar bem, queremos também que nossos jogadores consigam carreiras de sucesso. E a única oportunidade disso é que eles mostrem boas atuações dentro de campo e possam despertar o interesse de clubes maiores para possíveis negociações”, diz o dirigente.
Para sobreviver, o Serrano conta com ajuda de comerciantes locais e pequenos investimentos de fora. “Recebemos dinheiro de placas de publicidade, que são de R$1.500 o ano todo. Também trabalhamos com permuta em açougue, por exemplo. Fora isso, temos ainda uma empresa de Londrina que nos paga R$ 4 mil mensais, uma de São Paulo mais R$ 2 mil e um empresário do ramo de contabilidade que nos dá R$ 3 mil por mês. Nada mais. Nosso trabalho ainda é o de formiguinha, mas gostaríamos de encontrar um grande patrocinador que queira divulgar sua marca em nossas camisas”, diz o presidente do time.
Diante da situação, a imprensa de Prudentópolis chega até a fazer uma brincadeira comparando o Serrano aos grandes da segundona. “Até nosso ônibus é mais simples. Tanto que quando o time foi jogar em Foz do Iguaçu, a delegação teve de esperar na estrada duas vezes, já que a condução quebrou no meio do caminho. É a batalha do tostão contra os milhões”, descontrai o radialista Élio Kohut, da Rádio Cidade de Prudentópolis, antes de completar: “Pode ter certeza que somos o time mais pobre do campeonato. Com orgulho”.

Presidente e time têm raízes rurais

Fundado em 2005, ainda disputando partidas amadoras, o Serrano é um clube com raízes rurais. Já teve um capitão que sobrevivia da ordenha de vacas e outro jogador que discursava mensagens de paz e amor nos cultos em uma paróquia localizada numa região tomada por sítios e área verde de Prudentópolis. O próprio presidente, fundador e ex-jogador do clube na era amadora -, Valdir Cagnini, 38 anos, simboliza com fidelidade a personalidade do Serrano. “Devo ser um dos únicos presidentes pobres do futebol brasileiro. Trabalho terça e quinta-feira em Ivaí com uma escolinha. Isso é pra sobreviver. É esse meu próprio espírito que passo aos jogadores, já que não vendemos ilusões. Falamos a realidade e motivamos a todos com mensagens bíblicas e comportamento família”, enaltece.
Natural de Dois Vizinhos, no Sudoeste do Paraná, como jogador Cagnini teve seu auge no Juventude, na era Parmalat, nos anos 1990. Ele foi parar em Prudentópolis em 1997, como volante de um extinto time local. “Estou enraizado na cidade. Casei aqui e pretendo ficar pra sempre”, disse o presidente, que por acaso profissionalizou o Serrano longe dos principais cartolas da bola.
Em 2008, o clube venceu a terceira divisão e em 2009 ganhou a segundona. No ano passado, disputou o Estadual, mas caiu e tenta voltar à elite em 2012
Texto: Felipe Lessa(ParanaOnLine) – Foto: Élio Kohut
Programa Intervalo no Esporte (18:00 as 19:00 hrs) – Radio Cidade – www.cidade104fm.com.br

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