terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Entidades se posicionam contra pesquisa geológica na região sudoeste do PR



By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: JORNAL DE BELTRÃO Imagem: Divulgação


Desde novembro de 2016, uma cena inusitada tem se repetido pelas rodovias do Sudoeste. Dez caminhões grandes, diferentes dos geralmente vistos na região, passam pelas estradas parando de pouco em pouco e interrompendo o trânsito.
Esses caminhões são da empresa Global Geophysical Services (Global Serviços Geofísicos), que está instalada em Dois Vizinhos para fazer uma pesquisa sísmica na Bacia Sedimentar do Paraná. A pesquisa é encomendada pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), para aquisição de dados geológicos e geofísicos do subsolo da região.
A ANP, contatada pelo Jornal de Beltrão, afirmou que o estudo não tem qualquer ligação com o gás não convencional (gás de xisto), cuja pesquisa e extração são proibidas por lei estadual. Além disso, afirmou que o trabalho feito pelos caminhões - que causam pequenos tremores de terra para emitir vibrações e avaliar o subsolo de forma semelhante à que um ultrassom faz com o corpo humano - não causa dano ambiental. No entanto, entidades ambientalistas são contra essa pesquisa e contestam as duas afirmações.
Pesquisa pode abrir portas para extração de xisto
Desde setembro de 2013, um grupo denominado Coalizão Não Fracking Brasil (Coesus) - formado por ambientalistas, cientistas, geólogos, hidrólogos, engenheiros, biólogos e gestores públicos - luta publicamente contra a extração do gás de xisto feita através da técnica de fraturamento hidráulico (fracking), uma técnica polêmica, proibida em diversos países e envolta em relatos de grandes danos ambientais (leia mais no box abaixo: "Riscos dofracking").
O coordenador nacional da Coesus e também coordenador de campanhas climáticas da 350.org (entidade internacional do setor), Juliano Bueno de Araújo, conversou com a reportagem do Jornal de Beltrão e alega que a pesquisa que acontece hoje na região, apesar de não ser oficialmente um estudo para procurar o gás, abre caminhos para que novas pesquisas aconteçam.
"Essa pesquisa de agora é uma aquisição de dados geológicos. Depois disso, esses dados podem ser usados como subsídio para leilões e pesquisas voltadas à extração do gás de xisto, que é danosa para o meio ambiente e para as pessoas", afirma Juliano.
Entidade diz que estudo é prejudicial
A entidade Coesus afirma ainda que, além de abrir as portas para as pesquisas do xisto, o estudo geológico que acontece na região também causa danos ambientais, de saúde e estruturais por onde passa, através do que eles chamam de "terremotos induzidos".
"Muitos prédios não estão preparados para suportar as vibrações dos caminhões. Temos relatos de mais de 500 residências, de diversas classes sociais, que já sofreram rachaduras por causa dos testes sísmicos", afirma Juliano. O ambientalista acrescenta: "É comprovado que os abalos causam queda de produção da piscicultura e também quebra de ovas de peixes, inclusive em lagos e rios".
A Coesus aponta ainda relatos de outros países, como Inglaterra e Estados Unidos, onde moradores de áreas que passaram por este tipo de estudo sofreram com os abalos sísmicos. No Estado americano do Colorado, por exemplo, houve reclamações de rachaduras em paredes e também em poços de água. Segundo a Coesus, moradores de Londrina também relataram estragos depois da passagem dos caminhões na região.
A ANP alega, no entanto, que não há dano algum. O chefe do escritório regional do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), Dirceu Abatti, pondera: "As informações que temos em mãos indicam que a quantidade de oscilações não tem potencial para realmente causar dano ambiental, porque, segundo os estudos a que temos acesso, ela chega no máximo a 1,9 graus na Escala Richter".
A Escala Richter é o sistema de medição de terremotos usado internacionalmente e considera que tremores de magnitude menor do que dois graus dificilmente são sentidos por pessoas, podendo ser captados apenas por sismógrafos.
Legislação proíbe pesquisa e extração de xisto no Paraná
Ainda em 2014, em Cascavel, o procurador Carlos Bara conseguiu uma liminar contra a extração do gás de xisto. Atualmente o procurador está de férias, mas o Jornal de Beltrão falou com sua assessora, Priscila Berté. "Como ainda há muita incerteza sobre o assunto e muitos países já proibiram e apresentaram danos causados pela exploração do xisto, decidimos entrar com essa ação".
A ação em questão visa embargar um leilão federal que liberaria a exploração de gases não convencionais no subsolo da região. Segundo Priscila, a ação ainda está correndo, mas a Justiça já deu a liminar para suspender a licitação e ainda este ano deve sair uma sentença em 1º grau.
Francisco Beltrão também tem uma lei no setor. Ainda no fim de 2015, projeto de lei da vereadora Elenir de Souza Maciel (PP) proibiu no município a extração de xisto.
Em dezembro de 2016, o Governo do Paraná proibiu para os dez próximos anos o estudo e a extração do gás de xisto por meio do fracking em todo o Estado. O Paraná é o primeiro em todo o País a tomar essa iniciativa.
Baseando-se nessa proibição, Juliano, coordenador da Coesus, afirma que a entidade está entrando com ação pública contra a ANP e a empresa, para que parem as atividades e respondam criminalmente pelos meses de pesquisa. "Porque o teste está vetado. É uma lei sancionada!", diz.
A ANP, por sua vez, mantém-se na posição de que sua pesquisa não tem relação com a extração de xisto, por isso não se enquadraria na proibição mencionada.

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